quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Maranhenses Ilustres: Joãozinho Trinta



Não mudei as raízes do carnaval! Somente as coloquei em vasos mais bonitos...




João Clemente Jorge Trinta nasceu na cidade de São Luís do Maranhão e sendo de família pobre, desde pequeno trabalhou duramente para suprir suas necessidades financeiras. As dificuldades eram grandes, porém sempre lutou para ter uma vida modesta. No Maranhão, João participou de um grupo de amigos intelectuais, que sempre se reunia para discutir idéias. Desse grupo também participaram nomes como José Sarney e o poeta Ferreira Gullar. Alguns anos mais tarde, o maranhense passou a trabalhar como escriturário de uma empresa e em 1951, ganhou uma transferência dessa empresa para uma filial no Rio de Janeiro. Já no Rio, Joãosinho Trinta, como era conhecido, passou a estudar balé na academia de Eduardo Sena. Pouco tempo depois, conseguiu passar num concurso público para trabalhar como cenógrafo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No Teatro, o bailarino montou o cenário de inúmeras óperas, como, por exemplo, “Tosca” (pronuncia-se tósca), “Aída” e “O Guarani”.



Em 1965, Alindo Rodrigues, nome consagrado do Teatro Municipal que atuava como carnavalesco do Salgueiro, decidiu chamar o maranhense para integrar a equipe de aprendizes de Fernando Pamplona, grande personalidade da escola que confeccionava os carnavais da agremiação. No ano anterior, Pamplona já havia pedido a Joãosinho para fazer alguns desenhos de carros para o Salgueiro e como havia gostado intensamente, dessa vez, grande parte do desfile salgueirense de 65 seria desenvolvida por ele. O enredo se chamava História do Carnaval Carioca, baseado num livro da pesquisadora Eneida de Moraes. Foi um desfile belíssimo, de longe o melhor do ano e que resultou de cara num campeonato para o Salgueiro. Joãosinho Trinta acabou ficando na escola tijucana, sendo também um dos maiores responsáveis pelos títulos de 1969 e 1971.



Depois do carnaval de 1972, Fernando Pamplona saiu do Salgueiro e toda sua equipe se desmoronou. Porém Joãosinho Trinta, juntamente com a cenógrafa Maria Augusta, ficou na escola da Tijuca e continuou desenvolvendo carnavais na agremiação. O enredo de 1973 se chamaria Eneida, Amor e Fantasia e novamente falava da escritora Eneida de Moraes. Só que ao contrário do desfile de 1965, o enredo falava da vida e obra de Eneida e não apenas de um de seus livros. O carnavalesco foi até mesmo ao Pará para recolher material sobre a infância da pesquisadora. A diretoria da escola havia investido muito naquele desfile financeiramente e o conhecido “Joãosinho das Alegorias” (apelido que ganhou pelo sempre bom gosto na confecção de carros alegóricos) não poderia decepcionar. A primeira parte do desfile falava da cultura do estado do Pará, local onde Eneida havia nascido, e citava lendas paraenses, comidas típicas e a Festa do Círio de Nazaré. O restante do desfile contava sobre a vida artística da escritora, fazendo alusões a toda sua obra literária e suas pesquisas sobre o carnaval carioca. O Salgueiro entrou com força máxima na avenida e fez uma apresentação belíssima, um dos melhores momentos daquele ano. A agremiação conseguira um agradável 3º lugar, posição merecida pela escola tijucana.



Para o carnaval de 1974, a dupla Maria Augusta e Joãosinho Trinta decidiu fazer um enredo chamado O Rei da França na Ilha da Assombração e tudo girava em torno do sonho do rei-menino Luís XIII imaginando como seria a expedição da esquadra francesa nas terras brasileiras, onde o império francês gostaria de fundar uma grande colônia, a França Equinocial. Esse tema deu a João a possibilidade de recordar um pouco de seu passado, já que o cenário do enredo era justamente o Maranhão, onde o carnavalesco havia nascido. Grande parte do desfile foi baseada nas lendas que as pretas velhas contavam às crianças de São Luís. Entre as principais lendas, estava a do cortejo de assombrações, acompanhado pelo touro negro coroado, na Praia dos Lençóis e a da escrava que havia se transformado em Nhá Jança, uma serpente de prata que até hoje rodeia a cidade de São Luís. Toda comunidade salgueirense se empenhou muito num espírito de união para conseguir fundos para investir no desfile de 1974, organizando inúmeras festas e rodas de samba para garantir o dinheiro suficiente. O Salgueiro também contou com grande participação do figurinista Viriato Ferreira, criador de muitas das fantasias. A escola entrou na avenida com pinta de campeã. Acontece que o João investiu muito em fantasias e alegorias que davam um efeito altamente luxuoso. O carnavalesco fez um desfile numa grandiosidade visual muito forte. Era algo tão rico, tão impactante, tão esplendoroso, que chegava a doer os olhos dos espectadores! Via-se apenas um prenúncio de uma nova era, que estava apenas começando a despontar no carnaval carioca. Joãosinho Trinta também investiu num desfile mais compacto, com um número reduzido de componentes para não atrapalhar a evolução da escola. A agremiação se preocupou mais com uma bela estética do que com um contingente elevado. O Salgueiro foi ovacionado do início ao fim de seu desfile. Todo o público cantava o samba, que já era forte, com muita animação. As alegorias e fantasias estavam primorosas, dando um efeito visual de vermelho e prata admirável. A escola tijucana terminou seu desfile sob os gritos de “já ganhou!” e estava óbvio que aquele momento era único na história do carnaval. O Salgueiro ganhou não só o Estandarte de Ouro de melhor escola, como um merecido campeonato.



Em 1975, Maria Augusta e Joãosinho Trinta escolheram o enredo O Segredo das Minas do Rei Salomão. Esta temática era revolucionária, pois desde 1938, era completamente proibido uma escola de samba desfilar com um enredo internacional. Por mais que uma escola abordasse um tema estrangeiro, nele sempre deveria contar algum ponto de brasilidade. Mas a dupla de carnavalescos usou a esperteza e tentou complicadamente driblar os olhos dos jurados. Mas o Salgueiro enfrentava problemas graves na época. A agremiação estava sem quadra, sem dinheiro, cheia de problemas internos e ainda recebendo ameaças dos traficantes do morro. João foi obrigado a procurar sucata com os amigos em lixões para realizar seu desfile. Essa revolta deu origem a uma frase que até hoje causa polêmica: “Pobre gosta de luxo! Quem gosta de miséria, é intelectual!”. Mesmo assim, o Salgueiro veio fez um desfile luxuosíssimo, novamente esbanjando do vermelho e do prata. Joãosinho deu um show de originalidade, sempre enchendo a visão do público, da crítica e dos jurados. Não faltaram camelos, tendas árabes, palácios, pirâmides, tesouros e bigas puxadas por zebras. O desfile primoroso do ponto de vista estético, que empolgou toda avenida. E na apuração, foi confirmado o que já era de se esperar: o Salgueiro novamente levanta o caneco, conseguindo o único bicampeonato de sua história.



Durante o ano de 1975, o bicheiro Anísio Abraão David, que até então era mangueirense, decidi do nada bancar a então pequena Beija-Flor de Nilópolis, uma modesta escola de samba, recém-chegada no Primeiro Grupo, cuja sede ficava a aproximadamente 27 quilômetros do Rio de Janeiro. A Beija-Flor havia conseguido subir para o Grupo 1 em 1973 e conseguia se manter nele à base de enredo que exaltavam os “feitos” do regime militar. Porém depois da vinda do bicheiro, a agremiação começou a investir euforicamente no carnaval de 1976. Anísio convidou Joãosinho Trinta e Laíla, além de outros nomes do Salgueiro, para a Beija-Flor realizar seu próximo desfile. O enredo se chamaria Sonhar com Rei dá Leão, falando justamente da contravenção do jogo do bicho.



Quando a Beija-Flor entrou na avenida, todo o mundo do samba se manteve estático e ficou claro que jamais ninguém iria esquecer aquela manhã de sol. Nunca antes no carnaval carioca se viu um desfile tão luxuoso quanto aquele. Joãosinho Trinta preparou um desfile gigantesco e todo o público olhava impactado todo aquele esplendor fantástico. As fantasias eram riquíssimas, de um bom gosto infinito. Elas estavam leves, criativas e tinham uma comunicação muito forte com o público. As alegorias eram de longe as maiores já apresentadas no carnaval carioca até então, com espaço suficiente para colocar inúmeros destaques elegantes. Aliás, colocar destaques em carros alegóricos foi exatamente uma das características mais marcantes do João. O que mais impressionava não era nem o luxo nem a extravagância da Beija-Flor, mas sim como uma escola até então pequena havia se transformado tão bruscamente de um ano para o outro. Toda enredo girava em torno de uma alegoria principal, que trazia um casal proletário dormindo, sonhando com 25 animais do jogo do bicho. Depois seguiram várias alas de fácil compreensão, exaltando animais como o avestruz, coelho, burro, veado, borboleta, pavão, entre outros. O desfile também fez uma singela homenagem a Natal da Portela, eterno bicheiro de Madureira que havia falecido no ano anterior. Foi um momento inesquecível do carnaval carioca! Um desfile revolucionário, que viria a mudar completamente os rumos do carnaval. No dia da apuração, deu Beija-Flor na cabeça, um título que o povo já havia sentido chegar desde o dia do desfile. Pela primeira vez em 39 anos, o campeonato não foi uma do chamado “Bloco das Quatro Grandes” (Mangueira, Salgueiro, Portela e Império Serrano). Além disso, foi a primeira vez na história que uma escola de samba de fora da cidade do Rio do Janeiro foi campeã. Joãosinho Trinta cumpriu muito bem seu papel! No mesmo ano, o carnavalesco também fez o desfile do Império da Tijuca no Grupo 2. A escola sagrou-se campeã, participando do Grupo 1 em 1977.



Em 1977, Joãosinho Trinta decidiu recordar antigos carnavais, com o enredo Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana. A idéia baseou-se no enredo do rancho de Ameno Rosendá para o carnaval de 1908, falando da Corte Egipciana. A escola logo entrou na avenida sob os tradicionais gritos de “já ganhou!” e a cada momento que se passava, ficava cada vez mais clara essa possibilidade. A Beija-Flor mostrou uma seqüência irrepreensível de fantasias e alegorias, todas com um acabamento deslumbrante. Os carros, todos banhados em azul, branco e prata, traziam alguns dos mais ricos destaques, cobertos com figurinos impecáveis. As fantasias, todas suntuosas, faziam referências ao entrudo, ao baile de Veneza, aos festejos da Roma Pagã, às grandes sociedades, entre outros. Realmente, foi o desfile mais animado do ano, que acabou resultando num digno bicampeonato.



Em 1978, o carnavalesco desenvolveu o enredo A Criação do Mundo na Tradição Nagô, um tema yorubá de natureza riquíssima, baseado no duelo de amor dos deuses Obatalá e Odudua na dinastia de Ifé e das três princesas africanas responsáveis pela difusão da cultura nagô no Brasil (Ya Calá, Ya Detá e Ya Nassô). Logo na armação da escola, Joãosinho gritou nos microfones: “Quando ganhamos em 76, disseram que foi por acaso. Ganhamos outra vez em 77 e disseram que foi por acaso. Agora, contamos com vocês para ganhar no gogó. No gogó!”. Acontece que Joãosinho Trinta recebia inúmeras críticas pelo fato de fazer desfiles mais baseados na animação e no luxo do que na própria emoção. Já para 1978, a Beija-Flor gostaria de mostrar seu chão, seu povo, suas raízes! O carnavalesco ensaiou toda escola sob segredo, deixando apenas a mensagem que aquele ano seria muito diferente dos anos anteriores. Toda comunidade de Nilópolis se empenhou muito para fazer um desfile glorioso, recheado de emoção, digno de um tricampeonato. E aquele foi sem dúvida o melhor desfile do ano e um dos melhores da história da Beija-Flor! A agremiação de Nilópolis novamente fez um desfile belíssimo, extremamente bem-acabado e, como de praxe, luxuosíssimo. Só que todo o luxo ficou muito mais admirável quando unido com a garra do povo de Nilópolis. E foi essa a tão comentada surpresa: era a comunidade nilopolitana desfilando! Todo povo que havia trabalhado o ano inteiro para o sucesso da Beija-Flor via o resultado de tanto esforço. Joãosinho Trinta também foi obviamente o personagem principal do evento, que trouxe um deslumbre de fantasias banhadas em azul, dourado e prata. As alegorias, cheias de seus característicos destaques luxuosos, também tinham uma comunicação inesquecível com o público. A Beija-Flor fez um desfile histórico, que recebeu o Estandarte de Ouro de melhor escola. Na apuração, a escola de Nilópolis acabou se sagrando tricampeã, algo que todos já esperavam.



Em 1979, buscando o tetracampeonato, a Beija-Flor de Joãosinho Trinta veio a desfilar com o enredo O Paraíso da Loucura, uma verdadeira viagem pelo mirabolante imaginário do carnavalesco. João decidiu apostar naquilo que havia dado muito certo no carnaval anterior: a garra do povão de Nilópolis. Durante toda temporada pré-carnavalesca, a agremiação de Nilópolis era a favorita ao título, numa auto-suficiência extremamente exagerada. O problema é que escola encheu seu desfile com gente demais. As alas tinham contingentes absurdos, algo que prejudicaria por completo o desfile da Beija-Flor. Foi uma passagem muito desorganizada, mostrando que o honorável Laíla teve problemas em 1979. Além disso, as fantasias e alegorias vieram muito mais pobres que nos anos anteriores. Os chapéus da bateria e do mestre-sala, por exemplo, tinham exatamente o mesmo desenho que os de 1978. Joãosinho Trinta também errou feio na confecção do visual da escola. A Beija-Flor apresentou um seqüência de carros horríveis, grotescos, pesados e exagerados. Talvez esse desastre tenha sido causado pela ausência do figurinista e fiel escudeiro, Viriato Ferreira, que havia ido para a Portela. Por incrível que pareça a Beija-Flor sagrou-se vice, num desfile digno de uma colocação mais mediana.



Para 1980, o carnavalesco decidiu revidar a “injustiça” do ano anterior. Certa vez, João perguntou a uma criança o que ela faria se pudesse realizar todos seus sonhos. E a criança respondeu ingenuamente: “Faria o sol brilhar à meia-noite!”. Foi justamente daí que saiu o enredo O Sol da Meia-noite, uma Viagem ao País das Maravilhas, abordando todo universo do imaginário infantil. O desfile foi aberto com um belíssimo carrossel, que teve um impacto significativo muito grande. Seguiram-se belíssimas alas, fantasiadas dos característicos azul e prata da escola de Nilópolis. Também houve perfeita integração do público, que recebia bem o alto astral dos componentes da agremiação. Outro fator importante foram os tripés, representando várias figuras dos sonhos infantis. A Beija-Flor acabou sendo campeã (junto com a Imperatriz e Portela). Era o quarto título da escola.



Em 1981, Joãosinho Trinta escolheu o enredo Carnaval do Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo. Além de ser uma homenagem ao carnaval brasileiro, lembrou todas as sete maravilhas do mundo antigo, alistadas pelo escritor grego Antípatro de Sídon. Mas João havia cometido um erro feio. O desfile fez alusões às seguintes maravilhas: Jardins Suspensos da Babilônia, Colosso de Rodes, Templo de Diana, Farol de Alexandria, Estátua de Zeus, Pirâmides do Egito e Muralha da China. Só que a Muralha da China não é uma das sete maravilhas do mundo, mas sim o Mausoléu de Halicarnasso! Apesar do erro gravíssimo, uma coisa era certa: foi um desfile digno de entrar para a lista das sete maravilhas. João Trinta apresentou fantasias riquíssimas e carros gigantescos, de forte comunicação com o público. As sete maravilhas foram lembradas com um acabamento solene, planejado nos mínimos detalhes. Todos componentes cantaram o samba com empolgação, mostrando a garra de sempre. A Beija-Flor ficou em segundo lugar, perdendo apenas para o desfile arrebatador da Imperatriz. Muito justo!



Para 1982, o já consagrado carnavalesco desenvolveu o enredo O Olho Azul da Serpente, falando da invasão holandesa em Pernambuco no século XVI, sempre exaltada na literatura de cordel do Nordeste brasileiro. Como curiosidade, vale a pena lembrar que o título do enredo foi muito elogiado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. “O título já é poesia! Só um poeta poderia observar de imediato essa particularidade da serpente: os olhos azuis!”, como averiguou o poeta. Voltando ao assunto, aquele ano foi extremamente doloroso para Joãosinho Trinta. O júri decidiu fazer quase uma heresia com o carnavalesco, que foi a proibição completa de destaques humanos em carros alegóricos. João Trinta foi justamente a pessoa que mais colocou destaques em alegorias e essa estranhíssima regra seria um golpe baixo contra seu trabalho na Beija-Flor. Supercontrariado, o carnavalesco desobedeceu a restrição e colocou os benditos destaques nos carros da escola. A Beija-Flor fez um dos seus desfiles mais bonitos de sua história, numa elegância invejosa. Todas as fantasias cintilavam na Marquês de Sapucaí, dando um impacto riquíssimo, no ápice da palavra. Logo de início, a agremiação de Nilópolis foi, como sempre, ovacionada pelo público nas arquibancadas, que a recebia com os gritos de “já ganhou!”. Foi uma apresentação maravilhosa, um dos melhores momentos do ano! Porém o júri não gostou nada da desobediência da escola em relação à presença de destaques. A Beija-Flor perdeu muitos pontos na apuração e mesmo aclamada como campeã, ficou num injusto 6º lugar, a segunda pior colocação do Joãosinho na escola.



Em 1983, a Beija-Flor desfilou com o enredo A Grande Constelação das Estrelas Negras, uma tradicional homenagem a grandes negros da história do Brasil, como Pelé, Grande Otelo e Clementina de Jesus. João trabalhou num desfile baseado nas cores da escola (azul e branco), com pequenas relevâncias de dourado e prata. As fantasias, em especial as das baianas e do casal e mestre-sala e porta-bandeira, estavam como sempre belíssimos, com minucioso luxo aparecendo em cada mínimo detalhe. As alegorias, depois da desgraça do ano anterior, se compactaram, justamente para não causar confusão com nenhum dos jurados. Também merece destaque os tripés, típicos de muitos desfiles do Joãosinho, que ficavam nas laterais das alas. Foi um desfile de grande comunicação com a massa popular e foi com certeza um dos grandes momentos de 1983. Mas apesar de existirem apresentações superiores ao da Beija-Flor, a escola acabou sendo a campeã de 83 (pela última vez com Joãosinho Trinta). Para tentar o bicampeonato em 1984, Joãosinho preparou o enredo O Gigante em Berço Esplêndido, falando sobre as riquezas do Brasil e as possibilidades de transformá-lo em uma grande nação. A Beija-Flor realizou um belíssimo desfile, cheios de bons momentos e conseguiu admiração popular. A escola nilopolitana ficou em 3º lugar no desfile de segunda-feira e em 5º no placar final.



Em 1985, o enredo da Beija-Flor viria a se chamar A Lapa de Adão e Eva. A idéia do interessantíssimo tema surgiu quando Joãosinho Trinta descobriu que o Pão de Açúcar era uma das formações rochosas mais antigas do mundo. O carnavalesco deduziu que o paraíso do Jardim do Éden foi então o próprio Rio de Janeiro, na região do bairro da Lapa. Se caso fosse assim, Adão seria o primeiro malandro da Lapa, Eva seria a Garota de Ipanema e Madame Satã seria a diabólica serpente. O enredo também tinha base nas inscrições fenícias deixadas na Pedra da Gávea. Segundo o João, os fenícios foram os inimigos dos Tenentes do Diabo. O Rio acabou se transformando numa imensa Cidade de Babel, local onde seus habitantes eram intensas vítimas dos pecados capitais, oriundos dos malditos modismos da cultura pop, super-influentes no Brasil naquela época. Na avenida, a Beija-Flor foi prejudicada pelo sol claro. Toda iluminação estava preparada para a noite, porém o horário previsto para o desfile acabou sendo atrasado e infelizmente, as cores prateadas das alegorias perderam seu brilho sob a luz do dia. Mesmo assim, a escola de Nilópolis arrepiou e foi muito aclamada por todos que assistiram o desfile com atenção. A começar pela comissão de frente, formada por um grupo de mulheres altas que partiu os corações de muita gente. Depois vieram fantasias e alegorias brilhantes, repletas de originalidade. Foi um espetáculo divertidíssimo, que impressionou meio mundo com a riqueza de detalhes de um enredo tão interessante. O paraíso do livro bíblico Gênesis foi apresentado com muita competência com pelo deslumbrante trabalho do João, que como sempre, investiu muito no luxo. A Beija-Flor foi dignamente vice, pois ainda sim seria impossível deter a antológica Mocidade de Fernando Pinto.



Em 1986, Joãosinho Trinta, que completava dez anos como carnavalesco da Beija-Flor, decidiu levar o enredo O Mundo é uma Bola, falando da história do futebol no Brasil e no mundo. Naquele ano, o carnavalesco pode contar novamente com o figurinista Viriato Ferreira, que havia voltado à escola. Enquanto a Beija-Flor ainda despontava seu início de desfile no Setor 1 da Sapucaí, famigerados raios cintilavam assustadoramente no horizonte e uma desagradável chuva começou a cair na avenida. Pouco tempo depois, a chuva virou uma terrível tempestade, deixando uma sensação de perplexidade no ar. A Beija-Flor tinha até a possibilidade de esperar o temporal estiar para iniciar sua apresentação, porém o patrono Anísio Abraão já havia dado a palavra e a Beija-Flor teve de partir para a luta, mesmo contrariando muita gente da escola. O abre-alas era monumental, trazendo uma gigantesca bola de futebol representando o globo terrestre. Já o segundo carro, lembrava o sol e a lua, que na visão do carnavalesco, eram as inspirações para a criação das primeiras bolas. Ambos os carros integravam a primeira parte do desfile; parte essa que lembrava as possíveis origens do futebol nas antigas civilizações. Via-se ali uma seqüência maravilhosa de fantasias, sempre esbanjando muito luxo. Depois, Joãosinho preparou um grande setor lembrando a trajetória do futebol no Brasil. O público ficou impactado com belíssimos carros e criativas fantasias. Já naquele momento do desfile, a água da chuva já estava na altura dos joelhos, algo que mesmo assim era quase insignificante, pois era impossível abaixar o astral dos componentes, que cantavam o samba na maior animação. O desfile foi acabando com uma bela exibição de alegorias lembrando tradicionais times cariocas, como Vasco, Flamengo, Botafogo, entre outros. Aquela foi uma apresentação única na história do carnaval e a Beija-Flor terminou seu desfile ovacionada sob os gritos de “é campeã!”. Ironicamente, a chuva só estiou no memento em que escola de Nilópolis havia acabado de se apresentar. Foi um momento irrepreensível do nosso carnaval, que mereceu o Estandarte de Ouro ganho como melhor escola. Infelizmente, o júri oficial não pensou da mesma forma e a Beija-Flor ficou apenas com o 2º lugar, perdendo para a Mangueira. O jurado Leon Hirszman tirou pontos da escola no quesito Evolução, justo o quesito em que a Beija-Flor havia dado um verdadeiro show. Como justificativa, ele disse: “Jamais daria 10 para uma escola que elogiou a revolução de 1964”. Essa e outras ocasiões fizeram João se revoltar contra o passado da própria Beija-Flor, que já havia feito várias exaltações ao regime militar.



Porém, se a Beija-Flor conseguiu animar a todos em 1986 mesmo debaixo de chuva, não se pode dizer o mesmo sobre o carnaval de 1987. O enredo se chamava As Mágicas Luzes da Ribalta, contando a história do teatro. O maranhense preparou um belíssimo desfile, com fantasias e alegorias extraordinariamente bem-acabadas. Era um dos carnavais mais elegantes do João, cheio de pontos positivos. Mas infelizmente a Beija-Flor não conseguiu empolgar e fez um desfile bonito, porém morno. Em 1988, o carnavalesco entrou na onda de comemorar o centenário da abolição da escravatura, que também foi enredo de muitas escolas de samba. O enredo era chamado Sou Negro, do Egito à Liberdade e contava a história da raça negra desde os tempos do Império Egípcio. Aquele foi com certeza o ápice de luxuosidade do João num desfile de escola de samba. Nunca se viu tanto esplendor e exuberância desfilarem na Sapucaí. Era uma estética intensamente cara, capaz de impressionar a todos com tanta elegância e bom gosto. Era luxo suficiente para fazer arder os olhos do público! A Beija-Flor ficou com a 3ª colocação, num ano em que a Vila Isabel foi campeã com o rústico e revolucionário Kizomba, a Festa da Raça.



Durante toda trajetória do Joãosinho no carnaval carioca, o carnavalesco foi atacado intensamente pelo fato de trazer a estética do luxo aos desfiles de escolas de samba. Mesmo se justificando, a crítica era impiedosa e o João era o maior acusado de desfigurar as verdadeiras raízes do samba. Mas para o desfile de 1989, o enredo da Beija-Flor seria a grande resposta a todas essas heresias. O tema se chamaria Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia, uma crítica a luxúria do povo brasileiro. Só para constar, a Beija-Flor também pode contar com o diretor de harmonia Laíla, que havia acabado de retornar à agremiação. Logo de cara, houve muita repulsa da diretoria da escola, que não gostou da idéia do João e achava que a Beija-Flor iria fracassar em 89. Porém foi uma ordem já promulgada pelo patrono Anísio e não dava mais para discutir a idéia. Pouco tempo antes do carnaval, a Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, órgão de importância da Igreja Católica, soube que Joãosinho Trinta traria a imagem do Cristo Redentor caracterizado como mendigo para a Marquês de Sapucaí. Imediatamente, um arcebispo brigou na justiça pela proibição completa da imagem no carnaval. A Igreja venceu e Joãosinho foi obrigado a esconder a imagem. Momentos antes do desfile, o carnavalesco revidou e decidiu encontrar alguma forma de colocar o Cristo Mendigo na avenida. A diretoria colocou o Cristo dentro de um rústico plástico preto (o mesmo material tipo usado nas barracas dos manifestantes do MST) e João Trinta colocou uma enorme faixa com uma frase talvez mais impactante que a própria imagem da alegoria: “Mesmo proibido, olhai por nós!”.



O início do desfile foi talvez a imagem mais impressionante do carnaval. Todos aqueles que tanto criticaram o carnavalesco pela sua estética luxuosa, calaram-se para reflexão. Tratava-se de uma imensa ala de mendigos, todos vestidos com trapos velhos. A visão conservadora de analisar um bom acabamento de fantasias tinha que ser obrigatoriamente esquecida para julgar aquele desfile. Era uma quantidade imensa de pessoas fantasiadas com roupas esfarrapadas, feitas com materiais rústicos, mas que davam um conjunto visual fantástico. Viu-se também o abre-alas, com o Cristo coberto com a lona preta e rodeado de mais mendigos. Tamanho choque dado pela Beija-Flor foi suficiente para fazer todas as arquibancadas virem a baixo. Joãosinho Trinta definiu os mendigos como integrantes de um imenso “Bal Masqué” (baile de máscaras em francês) realizado pela escola de Nilópolis na Sapucaí. Para quem não sabe, “Bal Masqué” é na verdade um sofisticado evento de muito luxo, onde só os membros da mais alta elite podem participar. O segundo carro, apelidado de “O Convite”, trazia um chamado geral a todos os revoltados com as injustiças do Brasil e que quiserem usar o carnaval para manifestar seus verdadeiros ideais. Mas como diz o ditado, “pau que nasce torto, morre torto”, e o João, apesar do impacto inicial, acabou não se rendendo e também apresentou alegorias e fantasias altamente luxuosas. A segunda parte do desfile era multicolorida e tinha um belíssimo conjunto visual, confirmando cada vez mais o sucesso da Beija-Flor. Eram críticas sociais rígidas à polícia, ao governo, às guerras, ao sexo, à imprensa e é claro, à Igreja. Já na metade do desfile, ocorreu uma estranha abertura de alguns portões da avenida e todos os espectadores que se aglomeravam nos viadutos próximos à Sapucaí puderam invadir as arquibancadas. O desfile terminou com uma imensa ala de garis, que na verdade eram os próprios diretores da escola, incluindo o próprio Joãosinho Trinta. Foi como certa vez disse Neguinho da Beija-Flor: “Essa ala de garis era falsa, pois na verdade ela só tinha magnata”. Esses “falsos garis” se misturavam com o próprio pessoal do caminhão da COMLURB que limpava a pista naquele momento para o desfile da próxima escola. Mas ambos os garis (falsos e verdadeiros) estavam numa alegria gigantesca e davam imensos banhos de mangueira no público. Foi um final de desfile mágico, um momento apoteótico do carnaval. Um desfile emocionante, revolucionário, visto por muitos como o melhor da história.



A Beija-Flor foi notícia em todos os cantos do Brasil e Joãosinho Trinta fez merecer a todos o título de mago do povo. Todas as escolas reconheciam que a probabilidade do campeonato de 89 ir para Nilópolis era imensa. A agremiação recebeu o Estandarte de Ouro de melhor escola e de melhor enredo. Joãosinho Trinta recebeu o de personalidade do ano. Era um título quase garantido, um carnaval que todos saberiam que ficaria na história. Mas quiseram os jurados que assim não iria ser definitivamente. No final da apuração, a Beija-Flor e a Imperatriz Leopoldinense acabaram empatadas e o critério de desempate fora aplicado para definir a campeã. A escola de Nilópolis havia recebido três notas 9, que haviam sido eliminadas durante a apuração pelo fato de serem as mais baixas de cada quesito. Já a Imperatriz havia levado 10 de ponta à ponta e a clareza do regulamento falou mais alto, obrigando as notas eliminadas de Nilópolis voltarem a ser contadas no somatório numérico final. Foi um vice-campeonato extremamente doloroso, que fez todo Brasil chorar junto à Beija-Flor. Um dos quesitos que mais prejudicou a Beija-Flor foi o de samba-enredo, em que um dos jurados tirou pontos do samba pelo fato de possuir muitas palavras em afro. Joãosinho Trinta ficou decepcionado com a verdadeira injustiça e até hoje, toda escola ainda se revolta ao relembrar o carnaval de 1989. Mesmo assim, houve uma grande festa na quadra da agremiação comemorando o 2º lugar (festa sem motivo, pois o vice daquele ano era muito mais para chorar do que para festejar). No desfile das campeãs, o carnavalesco trouxe um contingente de mendigos maior do que o desfile oficial. João também trouxe três “Judas”, representando os três jurados que tiraram pontos da escola. Mas o que mais marcou aquele sábado das campeãs foi o fato de Joãosinho Trinta ter retirado o plástico do Cristo Mendigo. O público da Sapucaí não parava de gritar euforicamente “Tira! Tira! Tira!”, até que os diretores decidiram obedecer o pedido popular, fazendo novamente outro momento histórico, mesmo já se sabendo qual era o resultado oficial. No mesmo ano, o carnavalesco deu a vitória à Acadêmicos da Rocinha no Grupo de Avaliação do Acesso.



Em 1990, Joãosinho prometeu vingança! O enredo se chamava Todo Mundo Nasceu Nu e falava sobre os caminhos da humanidade desde os primórdios da história, passando um belíssimo ideal de igualdade e respeito mútuo entre os homens. Afinal, “todo mundo nasceu nu”!!! O enredo era extremamente interessante, mas até hoje é vítima da incompreensão, até porque o samba da Beija-Flor para 1990 era muito confuso. A idéia veio da proibição da “genitália desnuda” pela Liesa após o carnaval do ano anterior, quando a ex-modelo Enoli Lara, que havia desfilado na União da Ilha em 1989, mostrou todas suas partes íntimas da maneira mais natural possível. O carnavalesco preparou um desfile intensamente high-tech, cheio de efeitos especiais e altíssimos investimentos financeiros. A Beija-Flor entrou na avenida já com pinta de campeã, animando todo o público de domingo. O abre-alas era gigantesco e trazia enorme dinossauro azul com um homem de verdade na boca. Depois, Joãosinho Trinta teve a ousadia de colocar Jorge Lafond só de tapa-sexo sobre um belíssimo vulcão. Um dos momentos mais impactantes daquele desfile foi uma debochada alegoria que trazia inúmeros políticos, como Lula, Leonel Brizola e Fernando Collor, caracterizados com irônicos bonecos de bebês nus. Outro momento marcante foi o belíssimo carro “Bárbaros Modernos”, cheios de efeitos tecnológicos, lembrando a opressão das máquinas sobre os seres humanos. Foi outro desfile arrebatador, que não foi tão bom quanto o de 1989, mas que merecia uma boa colocação. Infelizmente, Todo Mundo Nasceu Nu foi um carnaval que teve o azar de calhar no ano errado, pois era impossível deter o sensacional “Vira virou” da Mocidade. Joãosinho Trinta ficou novamente com o vice-campeonato. Em 1990, João também havia conseguido o campeonato da Rocinha no Grupo C do Acesso.



Em 1991, a escola de Nilópolis desfilou com enredo Alice no Brasil das Maravilhas, vindo de uma exposição artística idealizada pouco tempo antes pelo Joãosinho. Tratava-se de uma seqüência de críticas sociais impiedosas, abordando a desesperança dos brasileiros quanto o nosso futuro. João investiu muito na garra do povo de Nilópolis para brigar por uma boa colocação, tentando superar as tristezas do passado. A Beija-Flor fez um carnaval gigantesco, com alegorias bonitas e boas fantasias. Faltou, no entanto, certo efeito no desenvolvimento dos figurinos da escola, talvez pela ausência do amigo Viriato Ferreira, que havia ido embora da Beija-Flor após o desfile de 1990. A agremiação ficou com um justo 4º lugar, pois era bem obvio que não dava para ir além desta colocação. No Acesso, o carnavalesco novamente levantou um título à Rocinha no Grupo B, deixando depois a escola.



Em 1992, inspirado no enredo em que a Leão de Nova Iguaçu foi campeã do Grupo de Acesso no ano anterior, chamado Quem te Viu, Quem TV, Joãosinho decidi fazer um carnaval falando sobre a televisão. O tema se chamaria Há um Ponto de Luz na Imensidão, relacionando a transmissão de imagens da televisão com os pontos luminosos do espaço sideral. O abre-alas era de imenso impacto, cheio de canhões de luzes e televisores que traziam imagens do próprio desfile. O carro também trouxe um guincho com uma câmera na ponta, transmitindo a imagem do próprio público ao vivo. Depois, seguiram-se diversas alas, que apesar de apresentarem um belo conjunto, tinham vários problemas de acabamento, fato ausente nos desfiles anteriores da escola. Não faltaram alusões a novelas como “Escrava Isaura”, “Pantanal” e “Que Rei Sou Eu?”. Infelizmente, a Beija-Flor teve vários problemas estéticos e mesmo com a animação de seus componentes, foi um desfile sem muito impacto, ainda mais depois de um acidente tenebroso com foi o que havia acabado de acontecer com uma alegoria da Viradouro. Além disso, a escola acabou não seguindo o regulamento da Liesa, pois Joãosinho descumpriu a restrição da Liga quanto o nu e trouxe duas pessoas despidas, com a “genitália desnuda”. A Beija-Flor, mesmo com um enredo interessante, fez uma de suas piores apresentações desde o começo do patrocínio do bicheiro Anísio Abraão David. A agremiação perdeu dois pontos pela presença das pessoas de “genitália desnuda” e ainda teve o azar de levar uma nota 7 no quesito Alegorias e Adereços do julgador Juciê Mendes, que naquele ano havia dado também notas baixíssimas para inúmeras escolas. A agremiação acabou em 7° lugar, não indo para o Sábado das campeãs. Porém, a escola poderia ter ficado até na 5ª colocação se não recebesse tais “sacrilégios”. Depois de fazer seu pior carnaval até então, Joãosinho Trinta deixou a Beija-Flor de Nilópolis. Na Beija-Flor, o carnavalesco revolucionou a estética do carnaval carioca, além de transformar a agremiação a numa das mais fortes escolas de samba do Brasil.



Em 1993, foi a primeira vez em 28 anos que Joãosinho Trinta não participou da confecção do desfile de nenhuma escola de samba, pois estava ocupado participando do projeto social Flor do Amanhã. Mas pouco tempo mais tarde, o carnavalesco foi convidado para fazer o carnaval da Viradouro de 1994. A escola de Niterói já era um nome forte no Grupo Especial e já tinha estrutura para levantar um campeonato. O enredo se chamaria Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal, contando a história de uma rainha africana que havia sido escravizada em Vila Bela (cidade do Mato Grosso) e governou por muitos anos o quilombo Quariterê no século XVIII. Este enredo era uma espécie de protesto defendendo a liberdade de liderança política das mulheres negras no Brasil, virtude ainda rara em nosso país. E foi um desfile arrebatador! Muitos momentos lembraram os desfiles que o carnavalesco havia feito duas décadas anteriores no Salgueiro. Um belíssimo conjunto visual que proporcionou notas máximas nos quesitos Fantasia e Alegorias e Adereços. A Viradouro conseguira o 3º lugar no placar final, sua melhor colocação no carnaval do Rio de Janeiro até então.



Em 1995, Joãosinho Trinta bolou um de seus enredos mais criativos: O Rei e os Três Espantos de Debret. Tratava-se de uma homenagem à vida e obra do célebre pintor francês Jean Baptiste Debret. O Rei, citado no enredo, era Dom João VI, que convidou o artista para implantar a arte erudita no Brasil. Depois, o enredo citou os três grandes espantos que Debret teve em sua vida. O primeiro espanto foi o que o pintor teve ao chegar ao Brasil, quando se admirou assustadoramente com as maravilhosas riquezas minerais, com a fauna e a flora exuberantes e, sobretudo, com a singular mistura de raças. O segundo espanto saiu do rico imaginário de Joãosinho Trinta. Segundo o carnavalesco, após Debret “descansar no Céu”, ele volta à Terra, reencarnando como um simples cidadão comum, morador da atual Paris, mas ainda lembrando de sua vida passada. O segundo espanto veio à acontecer quando Debret se apavorou com as notícias tenebrosas mostradas nos jornais parisienses sobre as desigualdades existentes no Brasil de hoje. Daí, Debret decidi vir ao Brasil para confirmar pessoalmente esses fatos, quando o terceiro espanto acontece. O francês vê que muitas notícias são reais, porém também vê que nosso país é muito mais que calamidades e redescobre a garra do povo brasileiro reagindo com euforia contra os problemas sociais. O terceiro espanto aconteceu no carnaval quando Debret descobriu a magia das escolas de samba. Joãosinho imaginou o Debret moderno como um turista assistindo emocionado a Viradouro homenageando-o. A escola, com esse enredo magistral, fez um desfile correto, multicolorido, mas extremamente frio, apático e cheio de problemas graves de acabamento. A Viradouro acabou ficando em 8º lugar, perdendo pontos nos quesitos Harmonia, Evolução e Alegorias e Adereços.



Mas se a escola havia ido mal em 1995, nada se compararia ao que viria a acontecer no ano seguinte. O enredo se chamava Aquarela no Brasil no Ano 2000, falando sobre os valores culturais do povo brasileiro e as riquezas naturais de nossas terras do Oiapoque ao Chuí. E foi um desfile tenebroso! A Viradouro veio cheia de problemas técnicos, com acabamento lastimável. Joãosinho Trinta não soube desenvolver o enredo com clareza e isso causou uma profunda tristeza nos componentes da agremiação. O samba até hoje é considerado precário. A escola tinha até fantasias com efeito, muitas com um bom acabamento, porém grande parte das alegorias eram desastrosas, de um repúdio infinito. Alguns momentos do desfile tiveram até impacto, como uma das alegorias que trazia uma imensa escultura representando uma mulata do cartunista Lan. Essa escultura, segundo o carnavalesco, era a maior que já havia passado no Sambódromo até então, com dez metros de comprimento e nove de altura. Mas desfile como um todo foi uma verdadeira tragédia! E mesmo depois desta patética apresentação, a Viradouro continuou enfrentando problemas. A Portela, que havia desfilado antes da escola de Niterói, sofreu com a quebra de vários de seus carros. Essas alegorias ficaram presas na Praça da Apoteose, causando um terrível congestionamento de carros alegóricos na dispersão da escola. Logo após o desfile da Portela, as alegorias da Viradouro, por sua vez, acabaram se prendendo em meio aos carros portelenses, engarrafando ainda mais a Praça da Apoteose. A própria alegoria da mulata do Lan, um dos poucos bons momentos do desfile, ficou completamente emperrada num dos suportes do Sambódromo, o que danificou por completo o conjunto visual do carro. Isso prejudicou muito todo desfile de domingo, principalmente a Mocidade, que estava se preparando para entrar na avenida. A Viradouro recebeu um festival de notas baixas e Joãosinho Trinta viu seu orgulho em 13º lugar.



Depois de levar a sua pior colocação no carnaval carioca, fazendo a Viradouro quase ser rebaixada, o carnavalesco foi vítima de inúmeras críticas. Entre as mais ferozes, Joãosinho Trinta foi visto como decadente e ultrapassado. Seu estilo de carnaval não se enquadrava os novos tempos. Era quase um declínio de um dos maiores magos do carnaval carioca! Porém o maranhense se manteve firme e sabia que não se renderia tão facilmente. Para 1997, João prometeu vingança em relação à tragédia do ano anterior. O enredo se chamaria Trevas! Luz! A Explosão do Universo, que seria uma interpretação carnavalizada da teoria do Big Bang e do surgimento da vida. Mas ainda em julho de 1996, outra bomba caiu sobre o carnavalesco. Ele sofreu uma isquemia cerebral e foi obrigado a operar o coração. Desde os tempos da Beija-Flor, o carnavalesco já sentia fortes dores no peito, porém nunca parou para analisá-las e essa isquemia serviu de alerta para a sua saúde. Aos poucos, o João conseguiu se recuperar, mas ainda sim teve seus movimentos do lado direito do corpo limitados, comprometendo sua coordenação motora. Entretanto, para sua completa recuperação, foi obrigado a mudar seus padrões de vida, se alimentando melhor e tendo mais horas de descanso. Em pouco menos de quatro meses, Joãosinho Trinta já estava de volta aos barracões da Viradouro, preparando o carnaval de 97. Foi uma demonstração de força e de vontade de viver e o desfile de 1997 seria a representação visual de sua importância no carnaval carioca.



No desfile da escola, Joãosinho mostrou todas suas armas contra as grosseiras críticas que estava recebendo. Logo de cara, o carnavalesco proporcionou uma visão memorável, pois o carro abre-alas, denominado “As Trevas”, era completamente preto, honrando o nome que tinha. Mas o impacto viria logo depois, quando João colocou todas as baianas vestidas de branco, gerando um belíssimo contraste de cores. Depois vieram inúmeras alas multicoloridas, com o azul e prata alternando com colorações mais quentes, como o laranja e o vermelho. Em todo momento, viu-se uma seqüência monumental de fantasias, todas com um acabamento impecável. Além disso, a Viradouro trouxe uma das melhores baterias do ano, que trazia a tão falada “paradinha funk”, que empolgou em muito todo o público das arquibancadas. Outro momento marcante daquela apresentação foi o belíssimo carro “A Terra”, que representava elegantemente o planeta Terra ainda em seu estado de formação geológica. Também houve vários setores da escola lembrando os quatros elementos primordiais: a terra, a água, o fogo e o ar. Foi um desfile mágico e animadíssimo, que rendeu um merecido Estandarte de Ouro de melhor escola à Viradouro. João conseguiu cumprir mais uma vez seu papel no carnaval, respondendo o pensamento preconceituoso dos críticos. A Viradouro acabou conseguindo seu primeiro (até hoje, único) campeonato e o Joãosinho levou seu título tão sonhado, tirado apenas por 0,5 ponto da Mocidade em harmonia.



Em 1998, para buscar um bicampeonato, João criou o enredo Orfeu, o Negro do Carnaval, que trazia uma interessante assimilação de um caso de amor de um sambista de um morro carioca com a lenda grega de Eurídice e Orfeu, o Deus da Música. O enredo tinha forte inspiração no filme de Cacá Diegues, “Orfeu do Carnaval”, que inclusive tinha muitas de suas cenas gravadas no próprio desfile da Viradouro. O carnavalesco preparou um desfile de muito bom gosto, com fantasias e alegorias riquíssimas, tendo as colorações da própria agremiação como base: o dourado, vermelho e branco. Foi outro momento mágico da escola de Niterói, inferior apenas por muito pouco em relação ao ano anterior. O desfile foi aberto por uma excelente comissão de frente, representando o deus Apolo, pai de Orfeu. Houve também várias alusões à história do carnaval, que, segundo o enredo, era o tema campeão da Escola de Samba do Morro, cujo “Orfeu moderno” fazia parte. O terceiro carro, que, aliás, tinha uma belíssima coloração de branco e prata, lembrava os ranchos da década de 40. Depois, viu-se uma seqüência deslumbrante de fantasias, que ajudava a aumentar mais ainda a comunicação com o público. O samba da Viradouro era incrivelmente popular e foi cantado com empolgação por toda Sapucaí, além de ser levado com uma cadência maravilhosa da bateria da escola. A última alegoria, que fora muito aplaudida pelo público, era de fato uma das mais bonitas do ano, representando o Orfeu como um compositor do morro (como já dito anteriormente) e seu Olimpo como uma favela carioca. Foi um desfile irrepreensível, cheio de momentos magistrais, que animou intensamente o público do Sambódromo. Contudo a Viradouro teve o azar da porta-bandeira deixar seu chapéu cair no meio do desfile e perdeu pontos. A agremiação de Niterói ficou infelizmente apenas na 5ª colocação. As campeãs foram a Mangueira e a Beija-Flor. Porém João não gostou em nada do título dado à agremiação de Nilópolis, pois ele já havia perdido na escola com desfiles muito melhores. Deu os parabéns à Mangueira e ao excelente trabalho do Alexandre Louzada na escola, mas não é simpatizante do título da Beija-Flor.



Em 1999, o carnavalesco prepara uma vingança em relação ao ano anterior e conta o enredo Anita Garibaldi, Heroína das Sete Magias, uma homenagem aos 150 anos de morte da catarinense companheira do revolucionário Giuseppe Garibaldi. Em busca de maiores informações sobre a vida da heroína, João viajou até a cidade de Laguna, em Santa Catarina. O desfile de 1999 teve como abre-alas, um imenso sabá de bruxas, baseado na lenda de que as mulheres viravam bruxas nas noites de Lua Cheia. Durante todo o desfile, ficou muito claro que a Anita abordada no enredo do João era apenas um mito, pois não tinha nenhuma relação com os verdadeiros fatos da vida da catarinense. Para o carnavalesco, Anita Garibaldi era uma personalidade mística descendente de índios caribós e negros africanos, filha do espírito corsário dos piratas e dos imigrantes italianos, além de maga, que foi às Índias Orientais em busca de poções. Na verdade, Joãosinho queria assimilar a imagem de Anita com a personalidade guerreira de todas as mulheres do mundo. Era um enredo complexo, mas que foi abordado com muita elegância na Sapucaí, com fantasias e alegorias maravilhosas. Foi um desfile belíssimo, que logo de cara já havia recebido os gritos de “é campeã!”. A Viradouro ficou merecidamente em 3º lugar. Em 2000, o carnavalesco cria o enredo Brasil: Visões de Paraísos e Infernos, relatando o imaginário europeu a respeito do Brasil e fazendo uma síntese dos 500 anos do descobrimento, num ano cujo tema de todas as escolas de samba fora o mesmo. Novamente, João mostrou porque veio e fez um desfile belíssimo. A escola fica em 3º lugar. Depois daquele carnaval, João sai da Viradouro.



Para o carnaval de 2001, Joãosinho Trinta foi chamado por Milton Perácio para confeccionar o desfile da Grande Rio, substituindo o carnavalesco Max Lopes. O enredo se chamava Gentileza X, o Profeta do Fogo, contando a história do empresário José Datrino, que havia perdido toda família num incêndio de um circo em Niterói e depois passou a percorrer o mundo pregando mensagens de amor e paz. A grande surpresa, que fora guardado a sete chaves, do João para aquele carnaval foi a vinda de um dublê americano trinado pela Nasa para sobrevoar o Sambódromo. O astronauta Eric Scott abriu o desfile da escola cruzando de uma ponta a outra a avenida com uma mochila voadora, movida à peróxido de hidrogênio. Esse vôo marcou mais uma vez o nome de Joãosinho Trinta na Marquês de Sapucaí e levou todo o público ao delírio com a apresentação da Grande Rio. E aquele momento já havia dado uma trabalheira muito grande à escola! Só o combustível da máquina, por exemplo, demorou cerca de um mês para vir de navio para o Brasil, pois como era um material muito corrosivo, não podia vir da avião. Mas não foi somente esta atração que marcou o desfile da escola. A começar pela comissão de frente, que representava o fogo e o alvorecer do novo milênio e que teve uma comunicação gigantesca com o público da Sapucaí. Depois veio o belo abre-alas, todo acabado em prata e que possuía uma grua levando a Globeleza Valéria Valenssa até próximo do público nas arquibancadas. A escola de Caxias veio com um conjunto de fantasias e alegorias mágicas, todas muito bem-acabadas, cheias de efeitos visuais. Foi um amanhecer inesquecível! Infelizmente, a Grande Rio perdeu três pontos por seu desfile ter o número de alegorias maior do que o permitido. A escola ficou em 6º lugar.



Em 2002, o carnavalesco decidiu novamente relembrar suas terras maranhenses, com o enredo Os Papagaios Amarelos nas Terras Encantadas do Maranhão. Foi um desfile muito bonito, cheio de efeitos especiais, contudo ainda sim frio e insosso, sem muita empolgação tanto do público quanto dos componentes. Entre os grandes momentos, a escola de Caxias contou novamente com a vinda do astronauta Eric Scott, que sobrevoou o Sambódromo e entusiasmou todo o público tal como no ano anterior. Ficou com sorte em 7º lugar. Para 2003, o carnavalesco criou o enredo O Nosso Brasil que Vale, falando sobre as riquezas minerais do Brasil. Mas na verdade, o enredo era uma implícita homenagem ao aniversário de 60 anos da Companhia Vale do Rio Doce e o título não deixava dúvidas de quem estava sendo exaltada. A Grande Rio foi a única escola de samba que recebeu patrocínio financeiro naquele ano (cerca de R$ 2,5 milhões). Apesar da aparente merchandising, foi um desfile arrebatador! A comissão de frente retratava de forma magistral os tipos de minérios existentes nas terras brasileiras. Eram quinze bailarinos de corpos pintados de diferentes cores, representando o ouro, a prata, o cobre, a bauxita, o ferro, o bronze, entre outros. Houve alegorias representando as reservas de minérios de ferro de Carajás e o paradisíaco Eldorado brasileiro. O penúltimo carro causou impacto repentino na Sapucaí, pois trouxe um condenado encapuzado numa cadeira elétrica, com direito a uma fumaça saindo da cadeira. Atrás do condenado, João colocou a imagem de um temível demônio. À frente da alegoria veio uma frase em néon dizendo: “Para o futuro chegar, vamos matar a fome”. Foi um desfile fantástico, de um impacto surpreendente, que sacudiu o público da Sapucaí. A Grande Rio chagou ao 3º lugar, participando pela primeira vez do Sábado das Campeãs.



Para 2004, Joãosinho Trinta decidiu fazer um enredo sobre sexualidade chamado Vamos Vestir a Camisinha, Meu Amor. Mas o carnavalesco, assim como em 1989 com “Ratos e Urubus” na Beija-Flor, enfrentou problemas com a Igreja Católica. A Igreja descobriu que a agremiação traria várias alegorias trazendo explicitamente imagens do ato sexual e entrou na justiça pedindo pela proibição dessas reproduções. A Igreja venceu e Joãosinho foi obrigado a esconder tais carros alegóricos. O carnavalesco preparou um desfile bem criativo, mas o tema até hoje é repudiado por muitos sambistas. A escola não conseguia agradar ninguém na temporada pré-carnavalesca pelo tema esdrúxulo e quase nas vésperas do desfile, João foi demitido da escola de Caxias. Dessas imagens “pornográficas”, muitas entraram na avenida cobertas, com faixas escritas “Censurado”. Foi um desfile até bonito, porém atravessado e extremamente grosseiro, até porque era um enredo muito pesado. O carnavalesco quis fazer o mesmo impacto que já havia feito na Beija-Flor em 89, todavia acabou errando gravemente. A Grande Rio ficou em 10º lugar e ficou claro que aquele foi, sem a menor dúvida, um dos piores carnavais do Joãosinho.



Depois de um carnaval lamentável, a Vila Isabel, que havia acabado de ser campeã do Acesso, convida o carnavalesco para confeccionar o desfile de 2005, tentando fazer a escola se manter no Grupo Especial. O enredo se chamaria Singrando em Mares Bravios... EConstruindo o Futuro, uma homenagem à história da navegação. Durante todos os preparativos do desfile. Joãosinho teve um apoio imenso de toda comunidade do Boulevard, além de contar com seu assistente Wanny Araújo e o cantor Martinho da Vila, que o ajudaram muito no desenvolvimento do enredo. O espírito deixado no João na comunidade foi de que a Vila estaria brigando para voltar ao Sábado das Campeãs e não para não ser rebaixada. Mas em novembro de 2004, o carnavalesco sofreu sua segunda isquemia. Enquanto descansava no barracão da escola, João passou mal e foi internado em estado grave. O carnavalesco ficou internado em coma induzido e respirando com ajuda de aparelhos. Como o carnaval da escola estava muito adiantado (foi a primeira escola a aprontar seu desfile), a participação do João no desfile não foi tão necessária assim, apesar da ausência do carnavalesco ser uma pena. Foi um desfile excelente, de uma comunicação muito grande com o público. Uma das novidades do desfile foram os 2.000 metros de tecido azul utilizado ao redor de todas as alegorias formando um imenso mar composto por pessoas da comunidade. O belíssimo abre-alas era a Arca de Noé, com magistrais efeitos de néon. Depois, seguiu-se luxuosos carros e alas representando as antigas civilizações. Houve alegorias lembrando o período das Grandes Navegações e o tráfico negreiro. O desfile terminou com uma bela homenagem à marinha moderna. Foi uma passagem muito bonita, digna do cumprimento da promessa do Joãosinho de voltar ao Desfile das Campeãs. A escola do Boulevard ficou em 10ª lugar. Uma boa colocação para quem voltava do Acesso, porém um tanto injusta (diga-se de passagem) pela qualidade do desfile apresentado.



Depois do carnaval de 2005, João continuou internado, ficando assim afastado do mundo do samba. Após receber alta, foi novamente vítima de outra isquemia, voltando a se internar em julho de 2005. Passou muito tempo sendo submetido à traqueostomia e respirando com apoio de aparelhos. Vinte dias depois, o carnavalesco fora levado para o Hospital Sarah Kubitcheck em Brasília, que é especializado em tratamento de vítimas de derrame. Aos poucos, João foi melhorando até finalmente deixar o hospital em outubro de 2005. Mesmo estando longe do carnaval por motivos de saúde, sua influência nos desfiles de escolas de samba foi sempre notável. Desde sua chagada na Beija-Flor em 1976 até hoje, o carnaval de todo Brasil passou a ser diferente. Joãosinho Trinta foi o responsável por uma era revolucionária do mundo do samba e toda sua criatividade, ousadia e inteligência fazem qualquer sambista se ajoelhar aos seus pés. Não a dúvidas que João é o maior nome do carnaval brasileiro e uma das personalidades mais marcantes da história do Brasil. Esse bailarino maranhense, vindo de família humilde, mudou por completo a estética do carnaval e seu nome está marcado em cada uma das escolas em que passou. Não é a toa que Joãosinho Trinta é chamado de “Mago do povo” e responsável pelo luxo e pelo lixo de toda uma nação.



HISTÓRICO: Começou no Salgueiro, convidado para integrar a equipe de Fernando Pamplona

1965 a 1975: Salgueiro

1976 a 1992: Beija-Flor

1994 a 2000: Viradouro

2001 a 2004: Grande Rio

2005: Vila Isabel

MARCA: Luxo. Joãosinho Trinta revolucionou o carnaval carioca justamente pela característica de confeccionar fantasias e carros exuberantes, cheios de investimentos financeiros, para impactar a visão dos espectadores



CAMPEONATOS: 12 ao todo, oito no Primeiro Grupo e quatro no Acesso: 1974 (Salgueiro no Grupo 1, com O Rei da França na Ilha da Assombração), 1975 (Salgueiro no Grupo 1, com O Segredo das Minas do Rei Salomão), 1976 no Grupo 1 (Beija-Flor, com Sonhar com rei dá leão) e no Grupo 2 (Império da Tijuca, com Guerreiros das Alagoas), 1977 (Beija-Flor no Grupo 1, com Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana), 1978 (Beija-Flor no Grupo 1, com A Criação do Mundo na Tradição Nagô), 1980 (Beija-Flor no Grupo 1A, com O Sol da Meia-noite: a Viagem ao País das Maravilhas), 1983 (Beija-Flor no Grupo 1A, com A Grande Constelação das Estrelas Negras), 1989 (Rocinha no Grupo de Avaliação, com O Esplendor dos Divinos Orixás), 1990 (Rocinha no Grupo C, com Um Coração chamado Brasil), 1991 (Rocinha no Grupo B, com De Roma pagã ao Despertar da Rocinha) e 1997 (Viradouro no Grupo Especial, com Trevas! Luz! A Explosão do Universo)



VICES-CAMPEONATOS: seis ao todo, todos na Beija-Flor: 1979 (O Paraíso da Loucura), 1981 (Carnaval do Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo), 1985 (A Lapa de Adão e Eva), 1986 (O Mundo é uma Bola), 1989 (Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia) e 1990 (Todo Mundo Nasceu Nu)



ESTANDARTES DE OURO: 13 ao todo: 1973 (de enredo), 1974 (de melhor escola, enredo e fantasias), 1976 (de enredo), 1977 (de comunicação com o público), 1978 (de melhor escola), 1986 (de melhor escola, além de uma premiação especial concedida apenas três vezes: para ele, Silas de Oliveira e Fernando Pinto), 1989 (de melhor escola, enredo e personalidade) e 1997 (de melhor escola)



PS: na contagem dos “Estandartes de Ouro”, foram incluídas também premiações que não envolve somente o carnavalesco, mas também a escola como um todo, como “Melhor escola” ou “Comunicação com o público”.

http://www.sambariocarnaval.com/joaosinho.htm

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