Estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria traça um panorama dos investimentos necessários em infraestrutura logística no Nordeste.
Responsável por 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a Região Nordeste precisa investir R$ 25,8 bilhões em infraestrutura nos próximos oito anos para garantir o escoamento da produção. Esse valor é necessário para tocar os 83 projetos de ampliação e modernização de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. O diagnóstico está no estudo Nordeste Competitivo, que a Confederação Nacional da Indústria (CNI), com sede em Brasília, divulgou ontem, em parceria com as federações das indústrias dos estados da região. De acordo com o estudo, apenas um quarto dos 83 projetos considerados prioritários está em andamento.
No caso dos portos, atualmente apenas o Complexo Portuário de São Luís e o Porto de Recife utilizam mais do que suas capacidades permitem, de acordo com a pesquisa. Em 2020, no entanto, seis portos vão operar acima da capacidade e outros dois estarão em potencial situação de colapso. Os casos mais críticos devem ser os de São Luís e do Porto de Natal.
Em Natal, o estudo menciona a dragagem no porto (já concluída) e a construção do Berço 4 (em fase de licitação). A ampliação do porto de Natal está orçada em R$ 108 milhões. A lista das empresas habilitadas a disputar a licitação será divulgada nas próximas semanas.
Maranhão - No caso de São Luís, a administração do Porto do Itaqui tem vários projetos de expansão. De concreto, há duas grandes obras em andamento que prometem ampliar a capacidade atual de movimentação de carga no setor logístico: a construção do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Itaqui, e a duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), administrada pela Vale. A mineradora também está construindo um novo píer, com dois atracadouros, no Terminal Portuário Ponta da Madeira, em São Luís.
De acordo com fontes do setor portuário de São Luís, a pedra fundamental da obra do Tegram deve ser inaugurada na primeira quinzena deste mês. O
atual projeto começou a ser elaborado em 2010. Os contratos de arrendamento do Tegram foram assinados no início de fevereiro deste ano, marcando a criação do empreendimento que promete elevar o setor portuário maranhense à lista dos 10 maiores portos do mundo, com uma movimentação de produtos agrícolas da ordem de 5 milhões de toneladas por ano na primeira fase, prevista para entrar em operação no terceiro trimestre de 2013.
O terminal terá capacidade estática de armazenamento de 500 mil toneladas (base soja), compreendendo quatro armazéns com capacidade de 125 mil toneladas/cada e movimentação final de 10 milhões de toneladas/ano na sua segunda fase, prevista para 2019.
O Porto do Itaqui (onde está sendo implantado o Tegram) movimenta atualmente 2,5 milhões de toneladas de grãos/ano. Em princípio, a movimentação de grãos será feita pelo berço 103, já existente, e para a segunda fase será utilizado o berço 100.
Mineradora - Em relação à Vale, em agosto deste ano, a diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 3,8 bilhões para a mineradora. Os recursos serão destinados à implantação do projeto Capacitação Logística Norte (CLN), criado para ampliar em 30,4% a capacidade de transporte e embarque de minério de ferro do sistema logístico da Vale no Pará e no Maranhão, que abrange a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e os terminais ferroviário e portuário de Ponta da Madeira. Com isso, o CLN passará a ter uma capacidade de 150 milhões de toneladas por ano (Mtpa).
O BNDES financiará 52,3% do projeto, que terá investimentos totais de R$ 8 bilhões e contempla a duplicação de aproximadamente 115 quilômetros da EFC; a aquisição de locomotivas e vagões; a construção de um novo berço de atracação, o Píer IV de Ponta da Madeira, com início de operações previsto para o primeiro semestre de 2014, além de ampliação da retroárea do terminal.
A ampliação da EFC integra um projeto de logística de US$ 4,1 bilhões e peça-chave para o aumento da exportação de minério de ferro. Sobre trilhos, as commodities percorrem o estado em mais de 1,3 mil quilômetros de linhas, com três vias principais: a EFC, com 892 quilômetros de extensão; a Ferrovia Norte-Sul, com 215 quilômetros que se interliga à EFC no município de Açailândia (MA); e a Transnordestina, que abrange sete Estados do Nordeste e tem 17,5 quilômetros dentro do porto de Itaqui. Administrada pela Vale no conceito mina-ferrovia-porto, a EFC transporta o minério para o terminal Ponta da Madeira.
Além do material, os trens levam produtos siderúrgicos, cimento, carvão, coque, soja e farelo, fertilizantes e derivados de petróleo. A empresa pilota um projeto de expansão da ferrovia. A iniciativa representa um dos maiores investimentos da Vale em logística e deve gerar mais de 8 mil empregos no pico das obras, que acontecerão em 27 cidades, sendo 23 no Maranhão.
CNI mostra pontos críticos
Com o estudo Nordeste Competitivo, a Confederação Nacional da Indústria pretende ajudar o Governo Federal a planejar no médio e longo prazo a infraestrutura de transporte e logística para integrar os estados da região. "A baixa eficiência de transporte de cargas compromete o esforço de adequação do setor produtivo aos padrões de competição e qualidade internacionais. Os custos de transporte são, em média, bastante superiores aos do mercado internacional", afirmou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, durante a apresentação do estudo. "O nosso objetivo é aumentar a eficiência do transporte de cargas no Brasil. Planejar é se preparar para o futuro, e o Nordeste precisa de obras urgentes", completou Andrade.
O setor produtivo quer contribuir com um volume maior de investimentos. Atualmente, 15,7% dos projetos que estão em estudo ou em andamento na região Nordeste contam com a participação da iniciativa privada. Aumentar esse volume é necessário para alavancar a competitividade da indústria nacional. "A infraestrutura não está colaborando como poderia, e deveria, para aumentar a competitividade do nosso país. A infraestrutura é um meio de elevação da eficiência da indústria", disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), José de Freitas Mascarenhas.
A CNI já divulgou os estudos Norte Competitivo e Sul Competitivo. Terceiro dos estudos regionais, o Nordeste Competitivo levantou os gargalos que podem, dentro de alguns anos, travar o escoamento da produção dos nove estados para o mercado interno e para exportação. As ferrovias e os portos são os que mais precisam de investimentos. Juntas, as duas malhas vão demandar 90% dos R$ 25,8 bilhões. Outros 9% devem ser investidos nas rodovias e 1% nas hidrovias.
O retorno do investimento total poderia se dar em pouco mais de quatro anos com a economia de gastos logísticos. Atualmente, a região gasta em torno de R$ 30,2 bilhões com transportes, incluindo custos com frete interno, pedágios, transbordo e de terminais, tarifas portuárias e frete marítimo. Mas, no longo prazo, o Nordeste demanda investimentos mais robustos. A análise é de que para solucionar os problemas de logística totais da região seriam necessários R$ 71 bilhões para 196 projetos.
Produção - As indústrias da região produzem o equivalente a R$ 29,2 bilhões por ano, sendo que 81% desta produção estão concentrados no setor de bebidas, de papel e celulose, de açúcar, de álcool, de combustíveis, de biscoitos e bolachas, de autopeças, de farinha de trigo e de petroquímicos.
As principais cadeias agropecuárias do Nordeste são a de cana de açúcar, de bovinos, de fruticultura, de mandioca, de soja e de milho. Juntos, os seis produtos respondem por 93% de toda a produção agropecuária. A produção extrativista mineral e florestal da região é muito concentrada em petróleo e gás natural, madeira, calcário, sal e potássio. Esses produtos respondem por 92% do que é extraído na região.
Números
11 Bilhões de reais é a necessidade de investimentos em portos no Nordeste, segundo estudo da CNI
12 Bilhões de reais é a necessidade de investimentos em ferrovias no Nordeste, segundo estudo da CNI
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