quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sistema portuário de São Luís está no limite da capacidade, diz CNI

 

 
Estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria traça um panorama dos investimentos necessários em infraestrutura logística no Nordeste.
 
Responsável por 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a Região Nordeste precisa investir R$ 25,8 bilhões em infraestrutura nos próximos oito anos para garantir o escoamento da produção. Esse valor é necessário para tocar os 83 projetos de ampliação e modernização de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. O diagnóstico está no estudo Nordeste Competitivo, que a Confederação Nacional da Indústria (CNI), com sede em Brasília, divulgou ontem, em parceria com as federações das indústrias dos estados da região. De acordo com o estudo, apenas um quarto dos 83 projetos considerados prioritários está em andamento.
No caso dos portos, atualmente apenas o Complexo Portuário de São Luís e o Porto de Recife utilizam mais do que suas capacidades permitem, de acordo com a pesquisa. Em 2020, no entanto, seis portos vão operar acima da capacidade e outros dois estarão em potencial situação de colapso. Os casos mais críticos devem ser os de São Luís e do Porto de Natal.
Em Natal, o estudo menciona a dragagem no porto (já concluída) e a construção do Berço 4 (em fase de licitação). A ampliação do porto de Natal está orçada em R$ 108 milhões. A lista das empresas habilitadas a disputar a licitação será divulgada nas próximas semanas.

Maranhão - No caso de São Luís, a administração do Porto do Itaqui tem vários projetos de expansão. De concreto, há duas grandes obras em andamento que prometem ampliar a capacidade atual de movimentação de carga no setor logístico: a construção do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Itaqui, e a duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), administrada pela Vale. A mineradora também está construindo um novo píer, com dois atracadouros, no Terminal Portuário Ponta da Madeira, em São Luís.
De acordo com fontes do setor portuário de São Luís, a pedra fundamental da obra do Tegram deve ser inaugurada na primeira quinzena deste mês. O
atual projeto começou a ser elaborado em 2010. Os contratos de arrendamento do Tegram foram assinados no início de fevereiro deste ano, marcando a criação do empreendimento que promete elevar o setor portuário maranhense à lista dos 10 maiores portos do mundo, com uma movimentação de produtos agrícolas da ordem de 5 milhões de toneladas por ano na primeira fase, prevista para entrar em operação no terceiro trimestre de 2013.
O terminal terá capacidade estática de armazenamento de 500 mil toneladas (base soja), compreendendo quatro armazéns com capacidade de 125 mil toneladas/cada e movimentação final de 10 milhões de toneladas/ano na sua segunda fase, prevista para 2019.
O Porto do Itaqui (onde está sendo implantado o Tegram) movimenta atualmente 2,5 milhões de toneladas de grãos/ano. Em princípio, a movimentação de grãos será feita pelo berço 103, já existente, e para a segunda fase será utilizado o berço 100.

Mineradora - Em relação à Vale, em agosto deste ano, a diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 3,8 bilhões para a mineradora. Os recursos serão destinados à implantação do projeto Capacitação Logística Norte (CLN), criado para ampliar em 30,4% a capacidade de transporte e embarque de minério de ferro do sistema logístico da Vale no Pará e no Maranhão, que abrange a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e os terminais ferroviário e portuário de Ponta da Madeira. Com isso, o CLN passará a ter uma capacidade de 150 milhões de toneladas por ano (Mtpa).
O BNDES financiará 52,3% do projeto, que terá investimentos totais de R$ 8 bilhões e contempla a duplicação de aproximadamente 115 quilômetros da EFC; a aquisição de locomotivas e vagões; a construção de um novo berço de atracação, o Píer IV de Ponta da Madeira, com início de operações previsto para o primeiro semestre de 2014, além de ampliação da retroárea do terminal.
A ampliação da EFC integra um projeto de logística de US$ 4,1 bilhões e peça-chave para o aumento da exportação de minério de ferro. Sobre trilhos, as commodities percorrem o estado em mais de 1,3 mil quilômetros de linhas, com três vias principais: a EFC, com 892 quilômetros de extensão; a Ferrovia Norte-Sul, com 215 quilômetros que se interliga à EFC no município de Açailândia (MA); e a Transnordestina, que abrange sete Estados do Nordeste e tem 17,5 quilômetros dentro do porto de Itaqui. Administrada pela Vale no conceito mina-ferrovia-porto, a EFC transporta o minério para o terminal Ponta da Madeira.
Além do material, os trens levam produtos siderúrgicos, cimento, carvão, coque, soja e farelo, fertilizantes e derivados de petróleo. A empresa pilota um projeto de expansão da ferrovia. A iniciativa representa um dos maiores investimentos da Vale em logística e deve gerar mais de 8 mil empregos no pico das obras, que acontecerão em 27 cidades, sendo 23 no Maranhão.

CNI mostra pontos críticos


Com o estudo Nordeste Competitivo, a Confederação Nacional da Indústria pretende ajudar o Governo Federal a planejar no médio e longo prazo a infraestrutura de transporte e logística para integrar os estados da região. "A baixa eficiência de transporte de cargas compromete o esforço de adequação do setor produtivo aos padrões de competição e qualidade internacionais. Os custos de transporte são, em média, bastante superiores aos do mercado internacional", afirmou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, durante a apresentação do estudo. "O nosso objetivo é aumentar a eficiência do transporte de cargas no Brasil. Planejar é se preparar para o futuro, e o Nordeste precisa de obras urgentes", completou Andrade.
O setor produtivo quer contribuir com um volume maior de investimentos. Atualmente, 15,7% dos projetos que estão em estudo ou em andamento na região Nordeste contam com a participação da iniciativa privada. Aumentar esse volume é necessário para alavancar a competitividade da indústria nacional. "A infraestrutura não está colaborando como poderia, e deveria, para aumentar a competitividade do nosso país. A infraestrutura é um meio de elevação da eficiência da indústria", disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), José de Freitas Mascarenhas.
A CNI já divulgou os estudos Norte Competitivo e Sul Competitivo. Terceiro dos estudos regionais, o Nordeste Competitivo levantou os gargalos que podem, dentro de alguns anos, travar o escoamento da produção dos nove estados para o mercado interno e para exportação. As ferrovias e os portos são os que mais precisam de investimentos. Juntas, as duas malhas vão demandar 90% dos R$ 25,8 bilhões. Outros 9% devem ser investidos nas rodovias e 1% nas hidrovias.
O retorno do investimento total poderia se dar em pouco mais de quatro anos com a economia de gastos logísticos. Atualmente, a região gasta em torno de R$ 30,2 bilhões com transportes, incluindo custos com frete interno, pedágios, transbordo e de terminais, tarifas portuárias e frete marítimo. Mas, no longo prazo, o Nordeste demanda investimentos mais robustos. A análise é de que para solucionar os problemas de logística totais da região seriam necessários R$ 71 bilhões para 196 projetos.

Produção - As indústrias da região produzem o equivalente a R$ 29,2 bilhões por ano, sendo que 81% desta produção estão concentrados no setor de bebidas, de papel e celulose, de açúcar, de álcool, de combustíveis, de biscoitos e bolachas, de autopeças, de farinha de trigo e de petroquímicos.
As principais cadeias agropecuárias do Nordeste são a de cana de açúcar, de bovinos, de fruticultura, de mandioca, de soja e de milho. Juntos, os seis produtos respondem por 93% de toda a produção agropecuária. A produção extrativista mineral e florestal da região é muito concentrada em petróleo e gás natural, madeira, calcário, sal e potássio. Esses produtos respondem por 92% do que é extraído na região.
Números
11 Bilhões de reais é a necessidade de investimentos em portos no Nordeste, segundo estudo da CNI
12 Bilhões de reais é a necessidade de investimentos em ferrovias no Nordeste, segundo estudo da CNI

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