sexta-feira, 30 de março de 2012

Para exorcisar a Ilha



Ubiratan Teixeira

Sua Santidade esteve dando uma circulada pela América Central no seu mister de pastorear suas ovelhas. Começando pelo paraíso dos astecas deu uma chegadinha até o arquipélago cubano fidelista, refúgio do único modelo americano de comunismo legítimo no continente.
Bento XVI, orou, pregou, exortou, passou carão eclesiástico e prometeu interceder pelas almas veniais à beira do abismo eterno, políticos e cristãos, excluindo desse rol os “mãos leve” que no entender canônico do primaz da igreja católica vão ter mesmo é que padecer os horrores das fornalhas dos infernos.
Depois da passagem de alguns Pios malinos pela cúria romana, cruelmente reféns do maligno, a família cristã ganhou uma sequencia de bons pastores que souberam usar o báculo com propriedade e o exorcismo na medida exata: Joseph Alois Ratzinger é um desses sob a proteção do Espírito Santo e a guarda de uma legião de anjos de boa índole.
Acompanhando pari passu a vida destes primeiros mandatários de minha Igreja e sentindo o poder canônico do atual ocupante da cadeira de São Pedro e sabendo como sei que V. Santidade é chegado a uma esticadinha fora do Vaticano vou tentar um agito popular para trazê-lo à nossa cidade neste ano em que comemoramos nossos 400 anos de registro civil com a finalidade de exorcizar definitivamente essa cruel maldição que paira sobre nossas cabeças desde o século XVII, lançada por aquele amuado eclesiástico – brilhante, mas caturro -, que atendia pela nomeada de Antônio Vieira.
Tendo tudo para sermos bússola e luzeiro em todos os níveis da cultura do continente (estudiosos da cultura do hemisfério já nos denominou de “Atenas Brasileira” e “Capital Brasileira da Cultura”, estetas urbanos nos viram como a “Cidade dos Azulejos” e líricos românticos de “Ilha dos Amores”) sempre aparecemos em qualquer conferição feita pelo IBGE numa humilhante rabeira de último lugar em tudo e não acredito que esses resultados negativos sejam apenas para irritar nosso líder político – que como tal é reverenciado por todas as raposas encravadas no pedestal do Poder. Querem uma prova de nossas virtudes culturais? A começar que foi sempre de um maranhense que partiram todas as revoluções estéticas na literatura brasileira desde o romantismo, continuamos deitando rolando talento. Mais recentemente o pintor Cosme Martins, que vivia com uma mão atrás e outra na frente enquanto persistiu entre nós, hoje, mesmo que explorado por um cruel marchant, vive de sua arte à tripa forra, proprietário de uma mansão com piscina e salas de hidromassagem na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro, dando-se ao luxo de pessoalmente renovar seu estoque de tintas e pincéis na Europa e nos Estados Unidos, fenômeno que aconteceu com Marçal Athaíde e Fernando Mendonça. Se tivessem ficado em São Luís José Louzeiro não teria chegado à estatura de reconhecimento que chegou, mesmo com o talento de romancista, jornalista e roteirista que levou daqui, Odylo Costa, filho seria um bundão no jornalismo local, Josué Montello teria se aposentado como funcionário da Receita Federal e o carnaval carioca teria continuado a ser o carnaval de blocos e ranchos não fosse a grande revolução de passarela feita pelo MARANHENSE João Jorge (ex Joãozinho Trinta).
E continuamos: Ferreira Gullar acaba de ganhar mais um “Moacyr Scliar” lá na terra dos intelectuais de carteirinha; Ronaldo Costa Fernandes continua sendo honrado e respeitado como escritor de talento criativo e renovador da prosa nacional; o crítico de arte e ensaísta de projeção internacional Ildeberto Barbosa vem mostrar aos maranhenses no próximo “Café Literário”, que Ceres Costa Fernandes vem promovendo no Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho” que a poesia desse talento sem fronteiras que é Nauro Machado tem dimensão planetária; os curtas (cinema: curta metragem) de Frederico Machado vão ganhando prêmios nacionais e internacionais onde quer que cheguem (já produzimos curtas de alta qualidade e em volume invejável, quede nosso cineclube? (na Europa inteira, nos Estados Unidos, no Japão e na Índia o hábito do cineclube é mantido) e o ator Cacá Carvalho na abertura da Semana de Teatro, depois de uma magnífica performance com texto de Pirandello agradecendo os aplausos sobejamente merecidos diz que se sentia orgulhoso em ter aberto a Semana, “única no país cuja programação estava ponteada de nobres talentos”.
São Luís não é só os títulos que ela carrega: São Luís é muito mais. Já saímos mundo afora mostrando do que somos capaz nas artes plásticas, na música (popular e erudita), na literatura nem se fala! Na área do teatro quem ainda está lembrado de “Tempo de Espera” de Aldo Leite que sufocou a plateia europeia pela força do seu grito, descarnada de adereços e penduricalhos, mas carregada de mensagem? Texto brilhante com atores exuberantes. E o trabalho de Américo Azevedo Neto, com o seu esplendoroso “Cazumbá” que deixou o país boquiaberto por muitos anos?
No último Café Literário um orgasmo de memória produzido por Zelinda Lima/Joila Morais, o artista plástico Airton Marinho (único em nosso planeta a produzir xilogravura em cores) perguntou por uma série de grandes momentos culturais que no auge de sua caminhada desapareceram, incluindo-se um extraordinário “Sextas as Seis”. E eu pergunto então pela SCAM, que oferecia o que de mais sério existia no mundo da música (sobretudo erudita) internacional; é verdade que morreram seus líderes, Lilah Lisboa de Araújo, Lilia Reis, José Martins, Fernando Perdigão... – mas os herdeiros só existem para usufruir dos benefícios e não também para arcar com os ônus? Onde enfiaram o Salão Artur Marinho e a Coletiva de Maio? E a Televisão Educativa, o projeto mais revolucionário de formação racional do homem já pensado no planeta?
Vamos incluir a vinda de S. Santidade Bento XVI nas comemorações dos nossos 400 anos de registro civil para nos livrar dessa cruel maldição lançada num momento de ira sagrada pelo mal-humorado jesuíta.

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