segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Avenida do IV Centenário, o ponto de partida


Por: Nonato Reis 

Num cenário em que pontificam falta de investimentos, descaso e incompetência, a Avenida do IV Centenário, que o governo federal em parceria com o Estado constrói na área ribeirinha da Camboa e bairros vizinhos, deve ser recebida como um ponto de luz na obscura paisagem urbana de São Luís. Se não desata o nó do trânsito, abre uma janela para se tentar formular a equação e começar a puxar o fio da meada.
É uma obra complexa, que exige paciência e planejamento. A parte mais difícil é a que compreende a área de mangue. Há lugares com mais de 30 metros de profundidade de lama, em que é preciso grandes quantidades de pedras para compactar o solo e preparar o terreno para receber o leito da avenida. São 650 metros de trecho expresso margeando o mangue. Das quatro pontes, duas estão com a estrutura concluída e as demais começam a ser erguidas.
Terá duas faixas de rolamento em cada mão, ciclovia e passeio para pedestre. Será uma obra de importância estratégica para a dinâmica do tráfego numa área importante da cidade, devendo se comunicar com os grandes corredores de transporte da região, entre eles as avenidas Getúlio Vargas e Franceses e o Anel Viário.
A construção de uma nova ponte sobre o Rio Anil, já detalhada em projeto, fará com que a avenida se integre à Via Expressa, oferecendo assim um sistema viário alternativo de capital importância para a ligação do centro histórico com a área nobre da cidade e também com bairros adjacentes.
A Avenida do Quarto Centenário é uma espécie de emblema do projeto de cidade que se deseja construir daqui para frente. Ao contrário de outros centros urbanos, a estrutura viária de São Luís estagnou no tempo. Há quase 10 anos não se constrói nenhuma grande obra. Aliás, nem grande nem pequena.
E investir no conjunto de vias auxiliares e secundárias é inadiável. De nada adianta rasgar avenidas, construir viadutos e túneis se, ao lado dessas medidas, não houver um cuidado especial com o sistema capilar, que garante a plena utilização dos traçados urbanos de maior complexidade.
A malha viária de São Luís padece com a falta dessa intercomunicação. Os grandes corredores, onde se acha concentrado o maior volume de tráfego, estão praticamente isolados. O resultado são pontos de estrangulamento e trânsito lento, às vezes sem um sentido lógico. Há uma necessidade flagrante da construção de novas vias de acessos, atalhos e alternativas, para garantir melhor distribuição de tráfego.
Uma ideia seria a construção de uma alça na junção das avenidas João Pessoa (hoje São Marçal) e Kennedy, ali na altura do antigo relógio do João Paulo, passando por trás do quartel do 24º BC até a Avenida dos Africanos. Isso, por si só, daria uma opção de tráfego interessante para quem pretende se deslocar para bairros como Coroado, Coroadinho, Parque dos Nobres, e até mesmo para quem deseja sair da cidade pelo São Cristóvão.
Pedro Fernandes, que há anos se dedica a estudar o trânsito de São Luís, propõe uma ligação direta entre o São Raimundo e a BR-135, contornando o aeroporto Cunha Machado, assim como a duplicação daquela pista que nasce na Avenida Guajajaras e conduz ao Parque Independência. Outra boa sugestão seria a abertura de uma avenida, no sentindo Turu-Olho d'Água, paralela à São Luís Rei de França, que hoje se encontra em colapso.
A Rua Cônego Tavares, antiga Rua do Bonde, que segue o mesmo traçado da Avenida Casemiro Júnior, no Anil, devia ser preparada para receber veículos menores, deixando o corredor principal para o transporte coletivo. Pedro Fernandes defende também a construção de uma alça elevada na mão de quem vem do aeroporto, na junção da Avenida dos Franceses com a Avenida dos Africanos, e outra na entrada para o Coroadinho e Parque dos Nobres.
Duas obras importantes são a construção de uma ponte, em arquitetura simples, nos moldes daquelas do Caratatiua, ligando o Portinho, na altura do Convento das Mercês ao Alto da Esperança, na Ponta do Bonfim; e outra a partir da Praça Maria Aragão ao antigo Hotel São Francisco. A primeira daria acesso rápido ao eixo Itaqui-Bacanga. A segunda garantiria fluidez à Avenida Ferreira Gullar, desafogando o tráfego nas duas pontes principais.
Ao lado dessas medidas, é inadiável mexer no transporte de massa. Uma ideia, hoje considerada ousada, mas que pode ser adotada no futuro, seria destinar o corredor Centro-Anil para o uso exclusivo de ônibus. Há anos cogita-se implantar em São Luís uma linha de trem de superfície, hoje denominado VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).
Um estudo dos anos 90 visava implantar na capital um serviço de trem de passageiros, aproveitando o leito da antiga Estrada da Vitória, que corta a cidade de norte a sul, a partir do São Cristóvão até a Beira-Mar. Os custos cairiam bastante porque já existe o suco da estrada, o que suprime a necessidade de desapropriações. Um projeto de Pedro Fernandes, que se encontra em estudo no Ministério dos Transportes, prevê a implantação de um sistema VLT entre São Luís e Itapecuru, passando por Bacabeira.
Como se vê, ideias e projetos existem às carradas. Falta é vontade política para fazer as intervenções necessárias. São Luís cresceu. Em população tornou-se uma metrópole, mas permaneceu com a malha viária de uma cidade de porte médio. Planejá-la é crucial. A Avenida da Camboa e a Via Expressa têm a função de recolocar esse tema na pauta dos governos e de jogar luz sobre um cenário sombrio. Que possamos trilhar a estrada que nos conduzirá a uma cidade mais humana e melhor estruturada. Antes que os caminhos se fechem de vez.

Nonato Reis é jornalista e escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente

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