quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale


Riqueza histórica esquecida

O Forte do Sardinha, monumento que, segundo relatos históricos, foi palco da entrega da cidade de São Luís dos francesas para os portugueses


A história de fundação da cidade de São Luís, que no dia 8 de setembro de 2012 completará 400 anos, está intimamente ligada a um monumento de indiscutível valor histórico e que remete ao episódio da transferência da posse das terras ludovicenses das mãos dos franceses para as dos portugueses, nos idos de 1615.
O Forte do Sardinha, em francês Fort de Sardine, foi transformado e renomeado para Forte São Francisco, edificado em pedra no governo de Bernardo Pereira de Berredo (1718-1722), e cujas ruínas permaneceram até a década de 1950 onde atualmente existe uma praça, nos fundos do bairro Basa, atual Ilhinha. O lugar representa o cenário onde os franceses, comandados por Daniel de La Touche, entregaram a cidade de São Luís para os portugueses, liderados pelo general Alexandre de Moura, mais precisamente no dia 4 de novembro de 1615, segundo o historiador maranhense Antônio Noberto, cujo instinto de curiosidade levou à pesquisa sobre o fato e à aquisição do mapa histórico que documenta o forte geograficamente.
O mapa está no livro Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão, de Olavo Pereira da Silva F. e no Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale, trabalho do historiador que traz desenhos e artes de Jonilson Bruzaca. Ao lado do escritor e membro da Academia Maranhense de Letras Sálvio Dino, o historiador foi em busca de informações para trazer à luz essa história, esquecida inclusive pelas autoridades. Sálvio Dino começou a se interessar pelo assunto desde quando era vereador em São Luís, na década de 1950.
“O professor Rubem Almeida me sugeriu que fizesse o trabalho de resgate desse episódio, tal seja a entrega da coroa de São Luís dos franceses para os portugueses, uma vez que ele estava sendo esquecido”, disse Sálvio Dino, que desde então insiste e persiste no resgate daquele momento histórico.
“Estamos lutando para fazer um monumento comemorativo dessa passagem que tanto enriquece a história de São Luís, como um presente em homenagem aos 400 anos de fundação de São Luís e para que, definitivamente, permaneça na memória de quem desconhece o fato e na memória das futuras gerações”, completou Sálvio Dino.
As ruínas do Forte São Francisco foram vistas por maranhenses como o historiador Carlos de Lima e sua esposa Zelinda Lima, e Mário Meireles. Não se sabe se o nome Sardinha se deve em razão da presença desse pescado no local ou se porque o mesmo foi entregue aos cuidados de um português aliado dos franceses que tinha esse nome.
O Forte do Sardinha, segundo Antônio Noberto, é provavelmente o mais antigo do Maranhão. É anterior ao período de fundação da cidade por La Ravardière. Na Relação do Maranhão pelo padre Luiz Figueira - 1608, quando estava em uma penosa viagem de reconhecimento do Ceará, na Serra Grande, (transcrição do Barão de Studart), Luiz Figueira diz: "Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão".
Arquivo – O original deste documento, conforme Antônio Noberto, está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904.
“O que essas informações nos trazem de novidade é exatamente a existência de duas fortalezas no Maranhão antes da fundação de São Luís. E tudo converge para que uma dessas seja o Forte do Sardinha. Primeiro porque existia desde o último quartel dos anos 1500 uma linha quase que regular de navegação entre Dieppe e a Costa leste do Amazonas. Upaon-Açu era o principal ponto de comércio da região”, disse Noberto.
O historiador continua: “Segundo, tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba / Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia)”.
Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Outra observação é que em hora nenhuma e em nenhuma narrativa se vê que La Ravardière tenha construído tal forte. Percebe-se que ele já existia.
Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba / Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Com a construção do Forte São Luís (em forma de cidadela), com 21 peças de artilharia, o Forte do Sardinha perdeu importância no cenário de defesa da cidade.
“Quando da chegada do Capitão-general Alexandre de Moura na Ilha Grande, ele se apossou do Forte do Sardinha e o rebatizou de Forte São Francisco, local onde em 4 de novembro de 1615 a França Equinocial capitulou definitivamente quando Daniel de La Touche concordou com os "termos arrogantes" ditados por Moura.
Observa-se a importância do forte pela sua anterioridade à fundação da cidade e por ter sido ali o evento de entrega das chaves da cidadela”, conta Antônio Noberto.

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