domingo, 20 de novembro de 2011

A nova casa do carcará


Preservar e perpetuar o legado artístico de João do Vale, bem como destacar sua importância no cenário da música brasileira. Estes são dois dos objetivos do Centro de Cultura João do Vale, projeto que está em fase final de planejamento e deverá ser executado ano que vem. O Centro, que será implantado na cidade de Pedreiras, trabalhará em três eixos específicos: cultura, educação e meio ambiente.
A proposta do projeto é da Fundação João do Vale, entidade criada em 2001 pelo filho mais velho do artista, Riva do Vale, que ocupa a presidência da fundação (hoje existe outra Fundação João do Vale, com sede no Piauí, mas que está sendo questionada na Justiça por Riva do Vale). Atualmente, o projeto do Centro de Cultura tem o apoio do Governo do Estado, por meio da Vice-Governadoria e Secretaria de Estado da Cultura, bem como da Prefeitura de Pedreiras, ambos parceiros do projeto.
De acordo com Benedita Freire, esposa de Riva do Vale (que se recupera de um Acidente Vascular Cerebral - AVC) e uma das idealizadoras do projeto, a iniciativa nasceu em 2009, com um grupo de pessoas que decidiu formatar o projeto depois de um show, realizado em Brasília por artistas maranhenses que cantaram João do Vale. Ela explica que algumas reuniões depois o projeto ficou pronto e foi apresentado ao Governo do Estado. “Atualmente, tramita na Secretaria de Estado de Infraestrutura e nossa expectativa é de ele seja implantado ano que vem, em Pedreiras. Para tanto, temos o apoio do Governo e da Prefeitura de lá”, observa.
Coletividade - Antes disso, no entanto, o projeto foi apresentado aos moradores, agentes culturais e artistas de Pedreiras que puderam opinar sobre a proposta. “Acatamos algumas sugestões porque nossa intenção não é fazer uma coisa para a família de João do Vale, mas para as pessoas. Trata-se de um projeto de caráter público”, diz Benedita Freire.
Com projeto arquitetônico assinado por Maria Lúcia Costa (filha do arquiteto Lúcio Costa), o Centro de Cultura terá como sede o antigo prédio da Prefeitura de Pedreiras. “O prédio nos foi concedido em regime de comodato e deverá passar por uma reforma para que possa abrigar o Centro”, destaca Benedita Freire.
Com um grande legado à cultura brasileira, a importância de João do Vale é inegável. Cantou sua terra e suas coisas como ninguém e, talvez por isso mesmo, o projeto do Centro Cultural em Pedreiras tenha conseguido apoio de muitos artistas, gestores e personalidades ligadas à cultura. É o caso de Chico Buarque. O compositor e cantor, que recebeu o projeto das mãos do filho do autor de Carcará, manifestou a felicidade pela iniciativa por meio de um correio eletrônico. “O Riva entregou-lhe o projeto este ano quando esteve no Rio de Janeiro e se encontrou com o Chico. Passados alguns dias, recebemos um e-mail dele no qual louvava a iniciativa e se colocava à disposição para nos ajudar”, destaca Benedita Freire.
Além dele, Benedita Freire destaca a participação das pesquisadoras Berenice Gomes, Mercês Parente e Glória Corrêa, além da técnica do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), Célia Corsino, de Brasília. “Estas pessoas são fundamentais para o projeto”, sentencia.
Eixos – O Centro de Cultura João do Vale terá um espaço dedicado ao acervo do artista. São originais de músicas, fotos, instrumentos musicais e outros objetos que hoje estão sob a guarda de Riva do Vale. “Também estamos garimpando outras coisas com amigos e parentes dele, de forma que queremos montar uma exposição bem rica”, diz Benedita Freire.
Uma das peças que comporá a mostra será a comenda (in memorian) concedida pelo Ministério da Cultura este mês a João do Vale e recebida por Riva do Vale este mês em Recife (PE). O artista também foi escolhido como o Maranhense do Século, em votação popular.

Centro de cultura terá sala de exibição


O projeto contempla também uma sala de projeção. “Pedreiras, como a maioria das cidades do interior, não tem cinema. Esta será uma opção na cidade”, frisa. Além da música, João do Vale mantinha uma relação com a Sétima Arte. Em 1954, participou como figurante do filme Mão Sangrenta, dirigido por Carlos Hugo Christansen. Na ocasião, João do Vale conheceu Roberto Farias - na época assistente de direção, - que, ao se transformar em diretor, convidou o compositor para musicar alguns de seus filmes, como No Mundo da Luz, de 1958. Além disso, em 1969, ele comporia a trilha sonora de Meu Nome é Lampião, de Mozael Silveira.
Outro eixo que o projeto abrange é o educacional. “A grande mágoa de João do Vale foi ter sido retirado da escola para dar a vaga ao filho do coletor”, relembra Berenice Freire. Ela explica que a ideia é fazer parceria com escolas da cidade, criar uma biblioteca e colocá-la à disposição da comunidade.
A ausência da escola foi motivo para a composição Minha História, na qual João do Vale narra sua infância pobre e sem estudos. “Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá / Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar/ A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar/ A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar”, diz a letra.
O meio ambiente, outro tema presente na obra de João do Vale, também está contemplado no Centro de Cultura. “Por meio de suas letras, o homem simples do campo, manifestava o respeito que ele tinha pela natureza. Queremos resgatar isto”, comenta

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