quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Nana Caymi em São Luís Sem Poupar Coração


Uma voz inconfundível


Uma voz inconfundível


Yane Botelho
Da equipe de O Estado

Nana Caymmi - Cantora


Reconhecida pelo timbre que traduz a paixão e pela voz grave e reconfortante, uma das grandes divas da música popular brasileira Nana Caymmi estará em São Luís hoje para apresentar o show Sem Poupar Coração. Todo o romantismo das músicas interpretadas pela cantora será mostrado para os fãs de São Luís no Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana (Cohafuma), a partir das 22h. O espetáculo é realizado pela Ópera Night Produções, em comemoração de seus 11 anos de trabalho.
Sem Poupar Coração é o título do 29° e mais recente álbum de Nana, que tem 50 anos de carreira. Nele se manifesta toda a essência romântica das interpretações da cantora. O nome do disco e do show também designa a música que está na trilha sonora da novela Insensato Coração. A essência foi concebida com o desejo de causar emoção na plateia. Algumas músicas do seu último CD, que é composto por um repertório que traz 14 músicas, farão parte do espetáculo. O disco tem arranjos dos mestres Dori Caymmi e Cristóvão Bastos.
A voz incrível da cantora interpretará composições do pai Dorival Caymmi e do irmão Dori Caymmi. O show deve mesclar canções inéditas, porém já consagradas por Nana, com músicas gravadas ao longo da carreira. Devem ser cantadas durante composições de ícones como Erasmo Carlos e Roberto Carlos, Cristovão Bastos e Aldir Blanc, João Donato e Ronaldo Bastos, Guinga e Paulo César Pinheiro, Tom Jobim e Dolores Duran.
Os ingressos antecipados estão à venda hoje por R$ 135,00, nas lojas Taco (São Luís Shopping) e Play Som (Tropical Shopping), até 17h. Depois desse horário, as entradas serão vendidas somente na bilheteria do local do espetáculo, no Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana (Cohafuma). Os estudantes terão direito de comprar ingressos com desconto por R$ 65,00, a partir das 15h, no local do evento.
Nana merece respeito e admiração no cenário musical nacional e internacional. Filha de Dorival Caymmi, irmã de Danilo e Dori, não há como distinguir sua música de sua vida.
Vista como uma das maiores cantoras do Brasil, o talento incontestável de Nana foi recentemente homenageado com um documentário que conta a poesia e a vida musical da cantora. Dirigido pelo francês Georges Gachot, o título da obra cinematográfica é Nana Caymmi em Rio Sonata (2011). Aparecem nesse trabalho outras grandes estrelas como Maria Bethânia, Erasmo Carlos, Dorival Caymmi, João Donato, Gilberto Gil, Antônio Carlos Jobim e Milton Nascimento.
A voz de contralto é herança do pai, Dorival Caymmi, mas a forma de cantar é inconfundível. Ela faz do estilo grave um canto suave e sentimental. No entanto, para Nana, o romantismo na música não se confunde com uma vida cheia de boas paixões. Ela acredita que a sensibilidade é passada pela maneira de interpretar. “É um trabalho de atriz, de ator, de saber o que diz a letra e deixar a voz ser embalada pela melodia. Sou da época em que as pessoas realmente cantavam”, destacou.
O que motivou a escolha do repertório do último álbum?
Nana Caymmi - O trabalho do último álbum, em si, foi em cima da morte de meus pais, em 2008. Mas a motivação principal foi a Glória Perez, autora da novela “Caminho das Índias” (2009). Não ia trabalhar, ia cumprir o luto. Mas ela é minha amiga e pediu uma gravação. Tenho estado cansada, foi uma grande luta contra a doença deles. A faixa do álbum que tocou na novela chama-se “Não se esqueça de mim”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. A canção foi tema do casal principal de personagens. Algumas músicas do álbum estarão no show.
O que mudou em seu cotidiano depois da morte de seus pais?
Nana - O meu dia a dia ficou muito triste. Meu pai e minha mãe eram muito presentes. Eu ia à casa deles todos os dias. Eles nunca ficaram sem um filho dentro de casa. Os irmãos se revezavam para sempre estarem com eles. Sempre na casa, algum filho estava. Meus pais tinham uma conversa ótima, víamos TV juntos, escutávamos música juntos. O Dori fazia sessões de música na casa deles. Ouvíamos CDs por horas, quando um acabava, mudávamos o disco, sempre com músicas que eles gostavam. Eles tiveram uma vida intensa e bonita, tanto na música quanto em família.
Sua voz é conhecida por traduzir a essência romântica. Onde isso encaixa-se em sua vida?
Nana - Romantismo não precisa de motivo, de associação de coisas, de viver sua própria paixão por alguma pessoa. É uma questão de interpretação, de colocar o coração na mesa. Imagino o sofrimento do compositor, não o meu. O romantismo vem de uma formação clássica de música, de minha paixão por Ópera, pelo prazer da boa interpretação. É um trabalho de atriz, de ator, de saber o que diz a letra e deixar a voz ser embalada pela melodia. Sou da época em que as pessoas realmente cantavam.
Quais os projetos de próximos CDs?
Nana - Vou trazer meu pai de novo. Quero deixar tudo gravado. Tenho de fazer um levantamento do que já gravei. Vamos festejar os 100 anos de Dorival Caymmi. Nós, os filhos, estamos nos juntando para fazer essa pesquisa. Ver o que foi gravado e o que não se gravou. Só nós, herdeiros, podemos fazer isso. Estamos mais próximos, conhecemos tudo, temos tudo guardado. É um testamento da obra dele. Ele nasceu em 1914, no dia 30 de abril.
As novas cantoras te agradam?
Nana - Também não escuto ninguém. Não sou de pesquisar canto. Nunca vi tanta cantora como há agora. Vejo nomes, mas não paro para ouvir ninguém. É difícil ouvir repertório de outras pessoas. Na TV, não se toca mais nada. Não há mais programa de música ao vivo. Só o Raul Gil. Não corro com o tempo, não economizo tempo. Vejo TV, novela, tudo, mas nada que me chame atenção na TV. Estamos cantando em “Insensato Coração”, isso eu aprecio. Gosto de ver nosso trabalho na novela. Vejo muito esporte, estou acompanhando a Liga de Vôlei, a seleção de vôlei masculina. Assisto a tênis, todo campeonato no qual o Brasil entra, seja futsal, futebol de praia, ou qualquer outro esporte, vejo e torço. Televisão é um grande entretenimento. Também assisto às notícias, os jornais. Não compro mais jornal impresso, isso é um problema. Mas acho que voltarei a comprar.
Qual a relação dos novos membros de sua família com a música? É uma questão de dom e hereditariedade?
Nana - Tenho uma filha atuante. Ainda não está estrondosa, a Alice, mas está estudando música. Não temos a música só como ganha pão, gostamos de música. Não queremos variar, mudar, tentar acompanhar novos sons, somos a família Caymmi. É genética.
A senhora não teme que a família Caymmi abandone a música?
Nana - Não estou preocupada com isso. Meu pai deixou um legado imortal, que não vai morrer. Como Jorge Amado com os livros, Caymmi tornou-se imortal com a música. A família Caymmi e, principalmente, Dorival, garantiu seu legado por uns 100 anos. Disso não tenho dúvidas. A Bahia não o esquecerá, nem como poeta nem como pintor. Temos a intenção de colocar as coisas dele no museu. Está sendo construído no Rio de Janeiro.

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