sexta-feira, 15 de julho de 2011

Equipe de filmagem refaz rota de quilombolas no sul do MA



Equipe de filmagem refaz rota de quilombolas no MA


Carolina - A equipe do Projeto Rota do Sal chega ao município de Carolina depois de percorrer três dos quatro estados brasileiros cortados pelo Rio Tocantins e à marca dos 1.000 quilômetros remados.
Desde maio, a equipe de gravação do documentário Rota do Sal Kalunga navega por um dos mais importantes rios brasileiros com a proposta de refazer a saga fluvial dos negros do quilombo Kalunga. Agora, os integrantes desta expedição cinematográfica fazem uma parada em Carolina.
Os integrantes do projeto partiram dia 16 de maio do território Kalunga, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiânia, pelo Rio Paranã, que deságua no Tocantins. No momento, navegam ora em águas maranhenses ora tocantinenses, já que neste trecho o rio é a fronteira entre os dois estados.
Ao alcançar o Maranhão, na margem direita, completam quase a metade do percurso, que será finalizado em Belém (PA), ao atingirem a marca dos 2.400 quilômetros remados.
São quatro pessoas em dois caiaques duplos oceânicos. Outros três integrantes seguem navegando em barcos. A iniciativa tem a assinatura da Avesso Filmes, produtora mineira dos cineastas André Portugal e Cardes Amâncio.
O registro audiovisual da aventura e todas as histórias colhidas ao longo da jornada pelo Rio Tocantins darão origem ao documentário de longa-metragem. O argumento da produção parte do fato histórico de que, durante séculos, os quilombolas navegaram o Tocantins, na Chapada dos Veadeiros, até Belém, para trocar produtos produzidos no quilombo por sal, item essencial para a sobrevivência.
História - Essa história está sendo recontada por meio de depoimentos e imagens captados ao longo da expedição. “Como em um road movie, o nosso conta com uma pré-produção, na qual mapeamos diversos personagens, mas também contamos com o acaso e um estado de alerta constante. Cada curva do rio pode trazer elementos interessantes para o documentário", explicou Cardes Amâncio.
O Rota do Sal conta com um set ousado. “Para um filme de rio, as opções são bem limitadas e devem preencher quesitos bem diferenciados de um filme tradicional”, definiu Portugal.
A equipe é enxuta para facilitar o deslocamento e equilibrar os custos do projeto. "Optamos por convidar pessoas que possuem aptidões específicas e ao mesmo tempo são versáteis e com grande capacidade de adaptação”, comentou Cardes.
Todos os envolvidos na remada têm ligação com esportes de aventura, principalmente práticas de escalada e montanhismo. Além do preparo físico, uma aventura deste porte também conta com preparação mental.
“Não houve nenhum tipo de preparação especial, a não ser seguir com uma rotina de esportes sempre em sintonia com a preparação mental, sabíamos que o rio seria nosso personal trainner e a determinação seria nosso guia”, comentou André Portugal.
Rumos - Heróis desconhecidos – esta é uma boa definição para os Kalungas que desbravaram a Rota do Sal. Considerada uma “odisseia tupiniquim”, a Rota do Sal Kalunga foi traçada a remo. Por meio do Rio Tocantins, os negros percorriam cerca de 5 mil quilômetros de território brasileiro em busca do alimento essencial para os homens e o gado: o sal. Vem daí a origem da palavra salário - sal, a moeda de troca por trabalho no vasto sertão do planalto goiano.
A jornada durava um ano. Tal como uma saga, a viagem tinha como ponto de partida o Rio Paranã - “igual ao mar”, em língua tupi. Mais ao norte, o Paranã é o principal tributário do Tocantins.
Segundo o Marquês de Pombal, “[...] é o mais seguro caminho para levar a civilização e o progresso ao interior do país.” O Tocantins foi, por mais de um século, a via do sal.
Nas primeiras décadas do século XX, outros caminhos para a troca de sal foram traçados, a partir do desenvolvimento do sudeste maranhense e do oeste baiano. A navegação no alto Tocantins ainda duraria mais algumas décadas, até a expansão da malha ferroviária brasileira e a construção da Rodovia Belém- Brasília nos anos 50.

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