sábado, 2 de julho de 2011

Acervo de qualidade para poucos museus




Acervo de qualidade para poucos museus


Yane Botelho
Da equipe de O Estado

Palco de revoltas, massacres, invasões estrangeiras, exploração e progresso, o Maranhão tem quase 399 anos. Em sua origem, registram-se batalhas e tréguas entre franceses, portugueses e holandeses pela conquista do território. Apesar de tão numerosos fatos históricos, o estado tem apenas 22 museus. São poucos espaços para revelar tanta história.
O número de institutos de visitação ligados à arte, à história e à cultura é pequeno, em comparação a outros estados. Segundo os dados do Guia Brasileiro de Museus, editado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão ligado ao Ministério da Cultura, o estado ocupa, em quantidade de museus, a 23ª posição entre as unidades da federação. São 217 municípios, dos quais apenas sete registram espaços dedicados a exposições permanentes: São Luís, Alcântara, Balsas, Barreirinhas, Carolina, Caxias e Mirador.
No entanto, o acervo dos museus maranhenses apresenta singularidade e, sobretudo, qualidade. Nas paredes e salões, encontram-se peças raras e de artistas famosos que contam a história da arte e do povo. São pinturas, esculturas, gravuras e objetos de valores estéticos, culturais e religiosos.
Contraste - A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão, Kátia Bogéa, diz que uma estrutura cultural de qualidade deve garantir ao conjunto de seus cidadãos a oportunidade de se relacionar com obras artísticas, históricas e culturais. “Não falta potencial ao estado. Temos bons museus e excelentes acervos. Em termos de qualidade de acervo, o Maranhão merece destaque”, avalia.
Kátia Bogéa argumenta que não adianta somente abrir um espaço público e instalar obras de arte e coleções históricas. “Tem que ter interação e promover atividades culturais”, afirma. Ela também aponta a falta de profissionais qualificados e a ausência de segurança do acervo como alguns dos problemas existentes nos museus maranhenses. “São poucos os museólogos existentes no estado. Nem todos os museus têm pessoal suficiente para garantir o funcionamento adequado”, diz.
Alguns dos museus maranhenses, apesar de constarem no catálogo do Ibram, encontram-se fechados. Outros deixaram de compor a lista por também estarem fechados. A Fundação da Memória Republicana e a Casa do Maranhão, ambos ligados à administração pública estadual, passam por problemas estruturais. O presidente da Fundação da Memória Republicana, Joaquim Itapary, revela que o museu, situado no Convento das Mercês, encontra-se em estudo para reforma, que deve ser iniciada daqui a três meses. “Os problemas provavelmente derivam da geologia do solo, bastante sedimentar. Mas a causa ainda está sendo analisada”, explica. A Casa do Maranhão, na Praia Grande, também passa por restaurações. No ano passado, o teto do prédio foi reestruturado.
Capital - A Morada Histórica de São Luís, que integra a administração municipal, está desativada. O Estado entrou em contato com a Secretaria Municipal de Comunicação, mas não obteve explicações. O museu fica situado na Rua Afonso Pena (Centro).
Em São Luís, pelo menos dois museus estão em vias de instalação. Mas as obras de dois deles estão atrasadas. Com 990,06 m² de área, no Centro Histórico de São Luís, o Museu de Gastronomia Maranhense ocupará um sobrado do séc XIX, localizado na Rua da Estrela, esquina com a Rua de Nazaré, no Centro. As obras e a administração são de responsabilidade da Prefeitura. Porém, a construção está em atraso. O projeto é financiado pelo Ministério do Turismo, que repassou as verbas de aproximadamente R$ 807 mil para a administração municipal em 2009. O Estado entrou em contato com a Secretaria Municipal de Comunicação, que não esclareceu os motivos para o atraso.
Em 2007, São Luís deveria ganhar o Centro Nacional de Referência Azulejar do Brasil – ou, simplesmente, Museu do Azulejo. No entanto, o projeto da Vale do Rio Doce, em parceria com o Iphan e com o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho nunca foi inaugurado. O museu – o primeiro do gênero no Brasil e na América Latina – ficaria em um casarão tombado na parte histórica da cidade, que foi escolhida como sede por ser a capital com mais azulejos na América Latina.

Acervo rico precisa da melhoria de espaços


A capital maranhense tem 16 museus. No Museu de Artes Visuais (MAV), localizado na Rua Portugal (Praia Grande), é possível ver algumas peças da coleção doada por Assis Chateaubriand ao estado, a qual contempla entre outros renomados artistas brasileiros e internacionais, a obra Tauromaquia do grande mestre espanhol Pablo Picasso e algumas gravuras da brasileira Tarsila do Amaral. Também despertam a admiração dos visitantes, a coleção de azulejos raros, esculturas, pinturas e trabalhos artísticos de valor incalculável.
Outra raridade do acervo maranhense é a imagem de São Bonifácio, que marca a chegada dos padres jesuítas ao Maranhão no século XVI. A estátua do ícone católico integra o acervo do Museu de Arte Sacra (MAS), localizado na Rua 13 de Maio (Centro).
O Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), situado na Rua do Sol (Centro), guarda tesouros da cultura, da arquitetura e do mobiliário de várias épocas. Em seus inúmeros cômodos e salas, os visitantes conhecem um pouco do cotidiano vivido por famílias do século XIX.
O Palácio dos Leões guarda relíquias de grande valor histórico, artístico e cultural. O local abriga um dos mais ricos acervos de São Luís. Dispostos pelos salões de arte da pinacoteca do museu, encontram-se peças dos séculos XVII, XVIII, XIX e início do século XX. A coleção é composta por pinturas, esculturas, mobiliário, vasos de porcelanas, pratarias e peças em cristais.
Na galeria de arte do Palácio, estão as gravuras colecionadas por Arthur Azevedo – desenhos de Andrea Mantegna, Paolo Veronese, Rembrandt, Geoffrey Tory e Frafonard – e as principais obras do artista francês Raul Verlet, “Condontiere” e “Orfeu”, duas esculturas em bronze criadas no século XIX.

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