sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cantora maranhense relembra os primeiros dias difíceis em Paris

Aline de Lima em entrevista para o Portal Acesse Piauí

Por Elias Sales

“Mal tinha dinheiro para pagar meu aluguel, passei um sufoco na cidade luz, sozinha com minhas musicas e meu primeiro disco, o qual muitas vezes troquei por tickets restaurantes”, revela a cantora e compositora maranhense, Aline de Lima, em entrevista por e-mail, ao portal Acessepiaui.
Em abril de 1998, Aline de Lima partiu de Caxias (MA), a terra do poeta Gonçalves Dias, com destino traçado: conquistar o mundo com sua música. Bossa nova, ritmos nordestinos, samba e poesia fazem parte do repertório dessa excepcional artista, que atualmente mora em Paris, na França, e mostra a música do Brasil para platéias de vários países da Europa e também do Canadá.


Mas nada acontece por acaso, Aline contou com um plano de marketing invejável, que incluía grandes cartazes espalhados pelos metrôs parisienses, sua música tocando direto nas rádios, além de uma turnê européia digna desse nome. “Ganhava muito pouco nos primeiros shows, apesar de ter feito muitas salas privilegiadas na Europa e Canadá”, diz.
Aline afirma que não gosta de se queixar, por isso aproveitou para aprender tudo sobre a profissão de artista, com interesse especial pela produção musical e administração de carreira. Em sessões de estúdio, acompanhada por Vinicius Cantuária, que produziu "Arrebol", seu primeiro CD, ela conta que descobriu os segredos da produção musical.
Confira a entrevista.

Entrevista: Aline de Lima

1. Aline, como começou sua história com a música?
Em 2001, quando abandonei meus estudos de design para me dedicar à música. Desde sempre a música esteve comigo, e chegou um momento em que não dava mais pra negar. Tive a honra de ser "escolhida" pela musica, de descobrir um tesouro em mim mesma e ter tido a sorte de dividi-lo com as pessoas.

2. Como foi sua saída do Brasil?

Minha família em peso me deixou na rodoviária de São Luis. Tive que ir primeiro em Brasília para buscar meu visa na embaixada sueca. Em abril de 1998, fui para a Suécia pra ficar mais perto de um namorado, e continuar meus estudos em artes gráficas. O namoro acabou, mas resolvi ficar na Europa e escolhi Paris como lar. Desde esse momento, nada mais foi como havia planejado. A música regeu todas as minhas escolhas de 2001 até hoje.

3. Você vem ao longo dos últimos anos desenvolvendo sua carreira em Paris. Como é a receptividade ao seu trabalho e à música brasileira no exterior?

Meu único mérito em fazer musica brasileira no exterior é o fato de ter sempre valorizado a composição. A música brasileira é respeitadíssima fora do Brasil. Porém, nesses últimos anos, ela tem se tornado um pouco "clichê", e a preferência por repertórios mais pessoais aumentou. E quanto mais se misturam as culturas, brasileira e outras, mais as pessoas se interessam. Penso que a musica brasileira evolui e se abre muito nesses tempos de internet e globalização. A roupagem eletrônica deu um ar de novidade à música brasileira, mas a música acústica também tem seu espaço, o que gosto muito porque valoriza o talento do músico, do humano. Se apresentar com músicos talentosos também faz parte e ajuda a manter a ótima reputação da nossa música fora do país.

4. Quais as dificuldades?

Fazer música é um ato de amor e devoção. E todo amor exige da gente muita renúncia. As dificuldades são muitíssimas e é aprendizado. Tive um inicio de carreira duríssimo, muito contrastante. Mal tinha dinheiro pra pagar meu aluguel, passei um sufoco na cidade luz, sozinha com minhas músicas e meu primeiro disco, o qual muitas vezes troquei por tickets restaurantes... Paralelamente, tinha um plano de marketing invejável, tinha grandes cartazes espalhados pelos metrôs parisienses, minha musica tocando direto nas rádios, uma turnê européia digna desse nome, enfim. É meio louco. Ganhava muito pouco nos primeiros shows, apesar de ter feito muitas salas privilegiadíssimas na Europa e Canadá. Mas como não gosto de me queixar, aproveitei para aprender tudo sobre a profissão de artista, com interesse particular para a produção musical e administração de carreira. Em sessões de estúdio, acompanhada por Vinicius Cantuária que produziu "Arrebol", meu primeiro CD, e também de Jun Miyake, um produtor japonês incrível que co-produziu meu 2° CD, "Açai", descobri os segredos da produção musical. Também me cultivei muito, da parte jurídica, contável ao marketing 2.0. Tenho uma visão global de tudo que devo fazer para continuar progredindo.

5. Há quanto tempo você está na estrada?

Comecei minha carreira em 2003. De lá para cá só aprendo. Tenho constantemente a sensação de estar sempre começando. Eu não consigo me apoiar no que eu já sei, acho isso muito perigoso. A gente esta' vivendo um período que exige muito do músico, exige uma visão artística e empresarial. Acredito que essa coisa de esperar que façam pela gente é pura ilusão. Ainda bem que adoro trabalhar, pegar no pesado e me realizo sendo uma operaria da musica.

6. Você retornou recentemente ao MA e participou da mostra SESC Guajajara de Artes, como foi retornar a Caxias?

Tanto o show em Caxias como em São Luis me deram uma energia incrível. Estar em Caxias e apresentar meu trabalho para meus conterrâneos foi muito emocionante. Fiquei muito orgulhosa em ver o quanto as pessoas são musicais. Isso não é privilégio de sulista nenhum. É uma das maiores qualidades do povo brasileiro. Eu amo Caxias, adoro as pessoas de lá, tenho um carinho imenso por tudo que lhe diz respeito. Quando era criança dizia que iria ser prefeita de Caxias. Isso só ilustra o quanto o meu berço é importante para mim, embora eu goste de muitas cidades brasileiras e estrangeiras.

7. Você tem uma formação musical?

Não tenho formação acadêmica, mas freqüento muitos workshops, o último foi com a cantora Fabiana Cozza, que esteve por Paris em março. Nesse mês vou fazer um atelier completo de técnica vocal e interpretação, "presente" do governo francês para artistas independentes, como eu. Também estudo violão em casa e com um professor excelente. Quando vejo o quanto se pode aprender, penso que vou passar minha vida estudando.

8. O que é a música para você?

A musica é um dom que foi dado por Deus ao ser humano para que este seja medianeiro de sua beleza, sabedoria e amor infinitos. Por isso que quanto mais eu me esforçar para aprender, um melhor "instrumento" eu hei de me tornar.

9. Você canta em Português e em francês, você se sente em casa em ambas as línguas?

Canto também em inglês e sueco. A vontade de compartilhar é tanta, que tudo flui naturalmente na minha cabeça. Mas é claro que no que diz respeito ao francês e ao português, eu me sinto completamente "em casa", como você diz.

10. Você sofre ou já sofreu alguma influência musical?

Varias. A primeira delas é a da MPB, seguida da bossa nova e do jazz. E de uns dez anos pra cá, a música africana me inspira bastante.

11. Qual o seu próximo projeto musical?

Estou enviando o release do disco MARITIMA, que acabei de fazer, mas que ainda vai sair, talvez em outubro, talvez antes. No link abaixo, você poderá escutá-lo:


Muito obrigada por suas questões e sempre que precisar, disponha.

Um grande abraço,
Aline

Um pouco mais da bela voz de Aline



 

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