A sensação é de dever cumprido. Aos 90 anos (celebrados dia 14 de março), o escritor, pesquisador, jornalista e membro da Academia Maranhense de Letras (AML), lança hoje, às 18h30, no Convento das Mercês, o livro “História do Maranhão – A República”, último da trilogia composta ainda por “História do Maranhão – A Colônia” e História do Maranhão – A Monarquia”.
O livro, que sai pelo selo do Instituto Geia, abrange desde a proclamação da República (em 1889) até os fatos políticos, sociais e econômicos que permearam a década de 1960. Carlos de Lima encerra, com esse volume, um árduo trabalho de pesquisa iniciado, de acordo com as palavras do autor, “há, pelo menos uns 40 anos”.
A exemplo dos livros passados, o escritor mantém a mesma leveza impressa nos livros anteriores. Cronista de O Estado (sua coluna, Bisbilhotices, é publicada no Alternativo aos domingos), ele trata dos temas abordados em seus livros históricos de forma engajada, mas sem perder o bom-humor, característico de sua personalidade.
Nesta publicação, o escritor também apresenta ao leitor, de forma cronológica, a ponte entre os acontecimentos e fatos que marcaram a história nacional e a maranhense. “Nos livros busco sempre fazer essa ligação, já que tudo está contextualizado”, diz Carlos de Lima.
Assim, nos 37 capítulos que compõem a obra, Carlos de Lima passeia por temas como o governo republicano provisório (1889), as reformas, a junta e os governos provisórios, a criação das Constituições Federal e Estadual, além de citar personalidades como Belfort Vieira, Benedito Leite, Colares Moreira, Eugênio Barros, entre outros.
Carlos de Lima conclui seu trabalho com o governo de José Sarney (entre os anos de 1966 a 1970). “A partir daí não escrevi mais até mesmo porque há a necessidade de um deslocamento dos fatos, a história precisa decantar para se escrever”, justifica.
Trilogia – Carlos de Lima traz, nessa trilogia, informações preciosas sobre o Maranhão e que antes estavam dispersas em dezenas de outros títulos. “A República” encerra um trabalho que, reunido, engloba mais de 1.500 páginas de história do Maranhão e dá ao leitor um panorama geral que vai desde o período colonial, passando pelo império até alcançar a república. “Até aqui eu vim e daqui para frente precisam arranjar um mais maluco do que eu”, diz o autor, afirmando que não deverá mais escrever sobre história. “Estou com 90 anos, já chega”.
Esta trilogia é resultado de anos de pesquisas, anotações, estudos e reflexões. O primeiro volume traz cerca de 600 páginas e reúne, além de fatos históricos, comentários e críticas do autor. Os 77 anos nos quais a monarquia teve vigência no Brasil foram retratados pelo autor por meio dos diversos conflitos sociais, da Guerra do Paraguai e da Proclamação da República.
Carlos de Lima não deixou de abordar também uma das principais revoltas maranhenses, a Balaiada. O movimento, ocorrido entre os anos de 1838 e 1841, foi liderado por escravos fugitivos, sertanejos e as camadas mais pobres da sociedade, revoltados contra a postura do governo. No livro, o escritor faz uma análise histórica favorável à versão dos balaios de que, na historiografia oficial, foram estereotipados como assassinos, jagunços e baderneiros. “A Balaiada foi uma revolta popular, não uma armação política como quiseram batizar recentemente um ato político aqui no Maranhão”, opina Carlos de Lima.
Paixão – Viciado em leitura, Carlos de Lima também cultiva o mesmo vício em relação à escrita. “Machado de Assis dizia que se um aposentado tem este vício, não há papel no mundo que chegue”, brinca o pesquisador. Para ele, o prazer está em registrar. “Não me importo se vão ou não publicar, me satisfaço em escrever”.
De escrita fácil que resulta em textos agradáveis, o autor, sempre que possível, inclui passagens pitorescas ou episódios engraçados em seus livros. Mas, a depender de seu discurso, esta produção deverá rarear a partir de agora. “Dedicarei-me apenas à leitura, acho que parei”, diz o autor de “As Ruas de São Luís”, para a tristeza de seus leitores. “Escreverei apenas minha coluna no jornal O Estado, já está muito bom”, finaliza com um sorriso maroto de quem, a exemplo de uma criança, espera pregar peças nos adultos.
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