quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Maranhenses Ilustres - Arthur Azevedo



Jomar Moraes


Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, filho de Davi Gonçalves de Azevedo e de Emília Pinto de Magalhães, 27 nasceu em São Luís, a 7 de julho de 1855 e faleceu no Rio de Janeiro, a 22 de ou¬tubro de 1908. Irmão mais velho do roman¬cista Aluísio Azevedo e do teatrólogo Américo Azevedo, Artur era um talento múltiplo e que se revelou precocemente.

Ainda estudante de primeiras letras, com apenas nove anos de idade, escreveu sua primeira peça tea¬tral, o drama intitulado Trinta Contos de Réis, do qual também foi o diretor, à frente de um elenco integrado por seus irmãos e por meninos da vizinhança.

O pai do futuro teatrólogo, português de sensibi¬lidade e de considerável educação, incentivou a vo¬cação do filho, reservando-lhe espaço doméstico para um improvisado teatrinho, e também ouvindo-lhe atentamente as produções iniciais, e até opinando sobre elas.

Entretanto, o funcionário consular de Portugal Davi Gonçalves de Azevedo, ao mesmo tempo em que apoiava os devaneios dos filhos, tratou de encaminhá-los para a vida prática, destinando-os ao comércio, onde comumente se começava bem cedo, e nas fun¬ções mais humildes, com vistas a uma carreira marcada por severa disciplina, e que poderia render postos de chefe dos caixeiros, sócio interessado e, eventualmente, até sócio-proprietário.

Quando Artur e seu irmão Aluísio iam iniciar os estudos de latim, e contavam, respectivamente, 13 e 11 anos de idade, o pai os retirou da escola, argu¬mentando que não os queria para padres, e que, no comércio, “não se precisa de latinórios”.

E lá se foram os meninos trabalhar em casas co¬merciais da cidade. Muito mais forte, porém, que os desejos do pai, foi a vocação de seus filhos, que não tardaram a desvencilhar-se de vassouras, espanado¬res e entregas de mercadorias em casa dos fregueses.

Artur passou, então, a trabalhar no estabeleci¬mento comercial do português Manuel Ferreira Cam¬pos, de onde, só de 15 em 15 dias tinha permissão para visitar os pais.

Anos depois, já consagrado com o reconhecimento nacional, recordando esse período de sua vida, regis-traria o escritor a sua rotina cotidiana: “Varrer duas e três vezes por dia o armazém e o escritório e, de manhã, muito cedo, dar à bomba um poço e encher uma tina d’água para a mulata do patrão tomar ba-nho.”

Mais adiante, informou: “Ordenado, nenhum; da¬vam-se casa e comida; naturalmente não achavam pouco”.

Embora submetido a tão duro regime de trabalho e a rígida disciplina, o rapazola encontrava tempo para ávidas leituras, assim como, impelido por uma voca¬ção irrefreável, escrevia peças teatrais e obtinha ra¬ras licenças para ir ao teatro (que depois teria seu nome), quando aqui chegavam companhias teatrais para breves temporadas.

Em 1870, achando-se na cidade uma companhia de operetas em que duas jovens atrizes francesas se destacavam – Adéle e Pope –, criou-se um ambiente de disputa e confronto entre jovens comerciários e estudantes.

Artur Azevedo, que formava, naturalmente, no grupo dos comerciários (ou caixeiros, como então se dizia), envolveu-se nas provocações de lado a lado que, durante um dos espetáculos, resultaram em panca¬daria e prisão dos mais exaltados. Em razão desse “escândalo”, foi despedido do estabelecimento comer¬cial onde trabalhava.

O pai do futuro escritor repreendeu-o rispidamente e, exortando-o a tomar juízo, conseguiu-lhe mo¬desta colocação na Secretaria do Governo da Provín¬cia.

Mas o espírito sarcasta e a índole galhofeira do jovem Artur não tinham como ser reprimidos.

Apesar de admitido, em caráter precário, na bu¬rocracia provincial, já no ano seguinte (1871) publi¬cou um pequeno volume de versos humorísticos intitulado Carapuços. E logo na primeira poesia ali estampada, não teve mãos a medir. Sob o título Lamentações, declaradamente uma paródia do poe¬ma A Judia, de Tomás Ribeiro, o imberbe poeta criti¬ca abertamente o grande atraso em que se achavam as obras do Dique (contenção ao avanço das marés sobre o Convento das Mercês e áreas circunvizinhas) e do Cais da Sagração.

Depois de discorrer acerca daquelas obras que tanto tardavam a ser concluídas, por serem “Sepulcro de mamadeiras” e “fosso de ladroeiras”, e depois de chamar o Maranhão “terra de comedores”, quase ao final do poema, diz:


Estão ambos no mesmo caso:

Dique e Cais da Sagração,

Nem um deles tem um prazo

Para sua conclusão...


Pelas considerações votadas a seu pai, o impetu¬oso rapaz ainda foi, por algum tempo, tolerado. Mas com a publicação do semanário O Domingo, que Artur Azevedo fez circular em São Luís, as pressões por parte dos ofendidos com a ironia do irrequieto sarcasta ter¬minaram provocando sua sumária demissão.

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