domingo, 29 de junho de 2014

Alceu Valença apresenta-se hoje no Arraial da Lagoa defendendo a brasilidade

'Eu insisto na brasilidade'

Alceu Valença defende a valorização da sonoridade produzida no Brasil como fruto da identidade cultural.
 

Foto: Divulgação
Alceu Valença defende a identidade cultural
Nos palcos do Nordeste, Alceu Valença prioriza os gêneros surgidos no agreste e no sertão do Brasil. Sob esta influência, mas com uma leitura universal, Alceu Valença apresenta músicas como Coração Bobo, Cabelo no Pente, Tropicana, Táxi Lunar, Turnê Nordestina, entre outras que não podem ficar de fora das festas juninas. O show inclui ainda hits de seu repertório, como La Belle de Jour, Anunciação, Pelas Ruas Que Andei e Tropicana. Além das músicas de sua lavra, não ficam de fora do show canções de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro a exemplo de Baião, Xote das Meninas, Vem Morena, Sabiá, Pagode Russo, Sala de Reboco, Olha pro Céu e O canto da Ema. Alceu Valença sobe ao palco acompanhado dos músicos e parceiros Paulo Rafael (guitarra e violão), Tovinho (teclados), André Julião (sanfona), Nando Barreto (baixo) e Cássio Cunha (bateria).

O Estado- Você é muito ligado à cultura popular, em especial a do Nordeste, e ao Carnaval. Para você, o que significam as festas juninas?
Alceu Valença – Apesar de não ser um tradicionalista, gosto de respeitar as tradições. E as festas juninas representam, mais que a tradição, a própria essência da cultura popular do agreste e do sertão, que se espalhou por todo o país. Tenho uma ligação muito forte com as festas de São João porque sou de São Bento do Una, no agreste de Pernambuco. Cresci escutando a música dos aboiadores, dos emboladores, dos cantadores de feira, dos sanfoneiros de oito baixos, enfim, em convívio permanente com os elementos que ajudaram Luiz Gonzaga e outros grandes nomes do forró verdadeiro a formatarem seu estilo, que é a trilha sonora mais representativa do São João no Brasil. Hoje, vejo certa diluição conceitual em algumas festas juninas. Acho que o Brasil é mais Brasil quando respeita suas tradições e sua trilha sonora.

O Estado- Mesmo tendo muito em comum, os estados do Nordeste mantêm cada um suas peculiaridades. No Maranhão, por exemplo, temos uma gama enorme de manifestações folclóricas, e uma delas é o bumba meu boi, brincadeira que no estado tem diferentes vertentes. Essa diversidade cultural influencia seu trabalho de alguma forma?
Alceu Valença - Nenhum outro país tem uma diversidade de gêneros tão farta quanto o nosso. É por isso que eu insisto na brasilidade, na afirmação da nossa identidade cultural, que é uma das características mais fortes que temos. O Brasil é celebrado no mundo inteiro por conta de sua música. Só lamento quando vejo um artista brasileiro trocar esta grandeza real pela pasteurização da música meramente de mercado. Uma vez, encontrei num aeroporto um rapaz que se aproximou de mim dizendo que era cantor e compositor. Perguntei qual o estilo da música que ele fazia. O rapaz então me disse: faço rap, porque parece com a embolada. Daí, eu indaguei: Então, por que não faz logo embolada? Precisamos ser mais cultos e menos cult!

O Estado- O frevo é uma constante em seu trabalho. Fale sobre sua relação com o ritmo e a abordagem que você fez sobre ele em seu disco Amigo da Arte.
Alceu Valença – Descobri o frevo ainda menino, quando minha família se mudou do agreste para Recife, e fiquei deslumbrado ao ver passar os blocos na Rua dos Palmares, onde morávamos. Éramos vizinhos do maestro Nelson Ferreira, um dos maiores compositores do gênero, e a cultura carnavalesca da cidade me impactou muito. Mas só comecei a cantar frevo por insistência do compositor Carlos Fernando, meu grande amigo, em seu projeto Asas da América, que renovou o estilo no fim dos anos 1970. E segui a lição que aprendi com Jackson do Pandeiro: para cantar frevo, tem que ter queixada! O disco Amigo da Arte é uma homenagem a tudo isso. Além do frevo, estão outros gêneros do Carnaval pernambucano, como a ciranda, o maracatu e o caboclinho.
A variedade de gêneros de Pernambuco se explica pela própria configuração humana do estado. As regiões do sertão e do agreste viveram a civilização do couro. Ali surgiram o baião, o xote, o xaxado, a embolada, com forte influência ibérica e mourisca. Já os gêneros do Carnaval vêm da zona da mata, que formou sua geografia humana pela cultura da cana-de-açúcar, com uma presença negra maciça, que veio a influenciar os ritmos do maracatu e das cirandas e a dança do frevo de rua, via capoeira. A presença ibérica é característica no chamado frevo de bloco, ou frevo-canção, mais dolente e nostálgico. Explicito esta relação no disco, ao convidar a cantora portuguesa Carminho para um dueto em Frevo N#1, um clássico de Antonio Maria.

O Estado- Você lançou, recentemente, o single Quando o Amor vai Embora. A música faz parte de um novo projeto, que é lançar um novo single a cada estação do ano. Fale mais a respeito.
Alceu Valença – Compus esta música para o meu filme A Luneta do Tempo, que lanço no fim do ano. Ela acabou ficando de fora da trilha e eu a adaptei para lançar via internet, algumas semanas atrás, e a canção rapidamente atingiu os primeiros lugares no segmento. A ideia é gravar e lançar canções a cada estação e posteriormente reuni-las num CD, que gostaria de chamar de As Quatro Estações de Alceu Valença.

O Estado-Em sua carreira, você tem lançado mão dos meios virtuais para divulgar seu trabalho. Como é sua relação com a tecnologia, a internet? Acha que este é o caminho para artistas novos e também veteranos?
Alceu Valença -Felizmente, a voz do anjo nos sussurrou a internet. Por ela, me sinto cada vez mais independente. Expresso minhas ideias livremente, lanço minhas músicas, lanço clipes, faço minhas maluquices. É maravilhoso dialogar com os internautas e receber de leso carinho do bom gosto, o afago da sensibilidade, ainda que na tela do computador. Em todos os shows, peço que as pessoas escrevam no meu Facebook, e assim chegamos a um milhão de seguidores na semana passada. Não há mais caminho fora da internet e esta descentralização do domínio da informação é algo muito positivo. Basta ver o quanto as pessoas têm se mobilizado pelas redes sociais. É um novo paradigma, não só para a arte, mas para todos os setores da sociedade.

Mais


O Arraial da Lagoa foi promovido pelo Governo do Maranhão, por meio das Secretarias de Estado de Cultura (Secma) e Turismo (Setur), com apoio da Comunicação Social (Secom). O apoio é da Suzano Papel e Celulose, Mateus Supermercados, Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e São Luis Convention & Visitors Bureau. Hoje também terminam os festejos juninos nos arraiais do Ceprama, Vila Palmeira e Praia Grande,a lém dos Vivas do Anjo da Guarda, Bairro de Fátima, Estiva, João Paulo, Liberdade, Praça da Saudade (Madre Deus) e Vila Embratel.

Programação



Arraial da Praça Maria Aragão
18h – Derrubamento do mastro,
com acompanhamento de
caixeiras do Divino Espírito Santo
20h – Tambor de Crioula
Unidos de Santa Fé
21h – Show com Teresa Canto
22h – Boi da Fé em Deus (zabumba)
23h – Boi de Brilho do
Sol Nascente (orquestra)
24h – Boi de Maracanã (matraca)
Barracão do Forró
20h - Raízes da Terra
22h - Marinaldo do Forró

Arraial da Praça Nauro Machado
19h – Quadrilha Asa Branca
da Liberdade
20h – Boi Segredo de Maracu (orquestra)
21h – Boi de Nina Rodrigues (orquestra)
22h – Grupo Revelação de Carutapera
23h – Boi Encanto do
São Cristóvão (orquestra)
24h – Show de Carlinhos Veloz
01h – Boi da Maioba (matraca)

Arraial do Ceprama
19h – Cacuriá Mirim da Vila Palmeira
20h – Show de Mano Borges
21h – Boi Oriente (baixada)
22h – Boi Brilho da Terra (orquestra)
23h – Boi da Maioba (matraca)
24h – Boi de Presidente Juscelino (orquestra)
01h – Boi Encanto do Olho d´Água (orquestra)

Arraial da Casa do Maranhão
19h – Barriquinha
20h – Boi Sempre Seremos Unidos (zabumba)
21h – Show de Tião Carvalho
22h – Boi de Presidente Juscelino (orquestra)
23h – Boi Brilho de São João /
Novo Boi de Viana (baixada)
24h – Boi Eldorado de Axixá (orquestra)
01h – Boi de Maracanã (matraca)

Arraial da Praça da Faustina
19h – Tambor de Crioula de Inaldo
20h – Tambor de Crioula
de Maria da Conceição Madeira
21h – Tambor de Crioula de Nilza/Rosilda
22h – Tambor de Crioula de Mestre Felipe
23h – Tambor de Crioula de
Raimundo Mendes de Celina
Arraial do Parque Folclórico da Vila Palmeira
19h – Dança Portuguesa Aliança
de Portugal da Vila Embratel
20h – Grupo Revelação de Carutapera
21h – Show de Nosly
22h – Boi da Madre Deus (matraca)
23h – Boi de Nina Rodrigues (orquestra)
24h – Boi Brilho da Liberdade (baixada)
01h – Boi Encanto do
São Cristóvão (orquestra)

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