segunda-feira, 21 de julho de 2014

Cadê o nosso gás, Eike Batista???

Eneva luta contra falta de gás no Maranhão que atrasa Parnaíba II

Por Cláudia Schüffner | Do Rio
 
Por trás do atraso para início da geração da térmica Parnaíba II, da Eneva (ex-MPX) existe não apenas o risco de pagamento de penalidades milionárias pela empresa de energia, mas também a falta de combustível, mais precisamente do gás natural que deveria ser suprido pela antiga OGX Maranhão, hoje Parnaíba Gás Natural (PGN). Como em outras situações envolvendo as empresas que pertenciam ao grupo EBX, de Eike Batista, o problema está sendo tratado de forma discreta. O gás existe, mas não se confirmou a "meia Bolívia de gás" anunciada por Eike.
A informação sobre a indisponibilidade de gás para suprir o complexo de térmicas da Eneva na bacia do Parnaíba foi confirmada por três fontes, que falaram ao Valor com o compromisso de não serem identificadas. Oficialmente, a Eneva alega, junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que houve atraso de pelo menos 278 dias para assinatura dos contratos de comercialização de energia de Parnaíba II no ambiente regulado (CCEAR's) com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.
Mas no Maranhão se verificou que as estimativas de reservas da OGX Maranhão, nesse caso de gás, foram superestimadas, assim como as de petróleo na Bacia de Campos exploradas por outra empresa do grupo, a OGX. As reservas de gás do campo de Gavião Real, que deveria ser o principal alimentador das usinas térmicas, estão abaixo das estimativas iniciais, como confirmaram fontes que conhecem o assunto.
Dos quatro campos declarados comerciais, só Gavião Real teve desenvolvimento aprovado pela ANP
Agora, para produzir todo o gás necessário, a empresa precisa fazer mais investimentos para perfurar novos poços e conectá-los à região onde estão as usinas, explicaram as fontes. A distância entre os reservatórios é maior que o previsto e há um custo alto de investimento em exploração e transferência do gás da boca dos poços até as térmicas.
Para todas as unidades da Eneva, que usam gás como combustível, gerarem energia seriam necessários mais do que os 6 milhões de metros cúbicos de gás por dia produzidos em alguns momentos pela Parnaíba Gás. Mas esse volume caiu e, em maio, a empresa produziu 5,3 milhões de metros cúbicos/dia no Maranhão, segundo o mais recente boletim de produção divulgado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ali, o campo de Gavião Real aparece como o sexto maior produtor do país e coloca a empresa no segundo lugar entre os maiores produtores de gás, atrás da Petrobras. Não é pouco, mas tampouco suficiente.
Uma fonte explicou que a OGX Maranhão tem conhecimento, já faz algum tempo, que Gavião Real sozinho não poderia suprir a produção de energia elétrica do complexo, onde a Eneva tem instaladas e operando as térmicas Parnaíba I (676 MW), Parnaíba III (176 MW) e Parnaíba IV (56 MW). A Parnaíba II vai gerar 517 MW.
A atual crise elétrica exigiu que as usinas operassem à plena capacidade e, com isso, foi necessário manter po r muito tempo a produção elevada de gás. E ali seriam 8,5 milhões de metros cúbicos para atender a demanda das térmicas construídas em torno dos campos de gás. As usinas chegaram a consumir 6 milhões de metros cúbicos por dia durante um período, mas isso levou a limites perigosos que poderiam diminuir a vida útil do reservatório, informou uma fonte. "Eles precisam investir e produzir gás em outros reservatórios que existem lá", informou ao Valor uma fonte a par do problema.
Questionada sobre as reservas de gás da Parnaíba Gás, a ANP informou ao Valor que "nos blocos exploratórios operados pela empresa existem hoje 12 Planos de Avaliação de Descoberta submetidos à ANP, os quais poderão comprovar novas reservas de gás nos próximos anos".
A Eneva pediu à Aneel prorrogação para início do contrato de geração, de 1º de março para o último dia do ano
A agência esclareceu, ainda, que as reservas de cada campo são informação confidencial das empresas, sendo que "os volumes reportados quando é feita a declaração de comercialidade de cada área é de responsabilidade exclusiva do concessionário". Ainda segundo a ANP, até o momento a OGPar - antiga OGX, que era operadora da área - declarou a comercialidade de quatro campos de gás no Maranhão: Gavião Real, Gavião Azul, Gavião Branco e Gavião Branco Oeste. Contudo, somente o plano de desenvolvimento de Gavião Real foi aprovado, e é o único já em produção. Os demais estão em análise, informou a ANP.
Com a indisponibilidade de gás da Parnaíba Gás impossibilitando a Eneva de gerar eletricidade, os problemas das duas empresas que compunham o conglomerado X se entrelaçam. A Eneva tem apenas 18,18% da Parnaíba Gás Natural mas terá que arcar com 100% das penalidades pela não entrega da energia em um momento de déficit no setor elétrico caso seja punida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Os outros sócios da PGN são a alemã E.On, com 9,09%, a Cambuhy Investimentos (da família Moreira Salles), com 36,37%, e a OGPar / OGX. Esta última está em recuperação judicial e manteve 36,36% que deverão ser vendidos em leilão. A participação remanescente da OGPar na Parnaíba poderá ser adquirida pela Cambuhy.
A Eneva aguarda o desfecho da cautelar para suspensão da penalidade que está sendo analisada no momento por Andre Pepitone, diretor da Aneel. Uma decisão desfavorável pode ser mais um golpe para a E.On, que já investiu cerca de R$ 4 bilhões na Eneva desde 2012 e ainda não conseguiu estancar a sangria.
No último mês e meio, o Valor tentou, sem sucesso, ouvir executivos da Eneva, da PGN, Cambuhy e a diretoria da Aneel sobre o assunto. Todos responderam que não iriam comentar. A Eneva pediu ao regulador prorrogação do início do contrato de geração por dez meses, passando de 1º de março de 2014 para o último dia do ano, o que na prática transfere o início da operação para 2015. Nem na medida cautelar em que pede suspensão das penalidades a falta de gás é explicitada.
Na exposição de motivos da cautelar, durante reunião pública na Aneel, o advogado da Eneva, Guilherme Baggio, disse que não houve operação continuada das unidades ao final do período de testes, em fevereiro, "porque há uma relação entre a usina térmica e o projeto de gás". E continuou afirmando que "há uma relação ainda que precisa ser melhor explorada, em relação à disponibilidade de gás para todo o projeto".











 


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