O risco de se ter um ventríloquo é a sujeira que ele pode fazer
Do blog do Regis Marques
Como era, como disse, comemorativa, era uma das poucas abertas aos familiares dos maçons. Uma das atrações que encantou aquele coraçãozinho infantil foi a presença de um cavalheiro vestido de fraque e seu boneco falante. Antes, eu nunca havia ouvido falar a palavra “ventríloquo” e nem sabia o que significava.
Aos pulos, meu coração se extasiava com as respostas atrevidas e politicamente incorretas do boneco, sempre que o cavalheiro de fraque lhe dizia algo . “De onde elas vinham, se bonecos não falam?”, indaguei ao meu pai. Ele sorriu baixinho e disse: “Realmente, bonecos não falam. Preste a atenção: é o próprio cavalheiro de fraque que, para enganar a nós outros, quem fala fingindo ser o boneco”.
Só então pude perceber os leves movimentos dos lábios do cavalheiro de fraque. Fiquei decepcionado. Achei que o cavalheiro era um mentiroso ou um covarde que usava um boneco para destratar os outros. Hoje, toda vez que vejo alguém falando pelos outros, lembro o cavalheiro de fraque mentiroso e o boneco inocente-útil.
Tem sido assim nesse episódio envolvendo a ida do ex-governador José Reinaldo Tavares, também conhecido pela alcunha de Zé Noel. Indiciado na Operação Navalha e preso como integrante de uma quadrilha que lesou os cofres públicos, Tavares foi escolhido a dedo pelo jurássico prefeito João Castelo para ocupar a Secretaria de Governo e coordenar sua própria sucessão à Prefeitura de São Luís.
Tavares é coordenador de um consórcio de partidos nanicos onde se misturam os ultradireitistas do PTC – ligados aos evangélicos mais conservadores -; o hoje centrista PSB, cujo maior expressão eleitoral é o ex-tucano Roberto Rocha, e dois partidinhos sem expressão nacional, o PPS e o PCdoB: o primeiro, satélite do DEM e do PSDB, sem brilho próprio; o segundo, trafegando (ou rodopiando) na órbita do lulismo desde sempre.
Invenção e beneficiário de um projeto anterior elaborado pelo próprio Zé Reinaldo que sangrou os cofres públicos em mais de um bilhão de reais para eleger Jackson Lago, o ex-deputado Flávio Dino é a parte mais interessada nesse movimento das peças desse novo jogo de xadrez da política maranhense. Para agora e para 2014.
Pré-candidato a prefeito em outubro próximo, nunca disse se é ou não é realmente a bola a vez. Nas redes sociais sugere que é. Quando alguns jornalistas e/ou blogueiros leem nas entrelinhas que ele será candidato, aí surge seu ventríloquo, ops, porta-voz e nega tudo. Aí o professor de Deus, veste a casaca e diz que ainda tem tempo, que seu prazo de desincompatibilização é junho. De fraque, fala em seu nome.
Articula pra cá, remexe pra lá e faz todos os outros candidatos jurarem que se renderão aos seus pés e retirarão suas candidaturas em nome do novo Messias. Menos um: Tadeu Palácio jura de pés juntos que é candidato contra Castelo e contra todo mundo. Inclusive contra o professor de Deus e contra o próprio Deus. Sabe-se lá até quando e por quanto…
Então, quanto todos (ou quase) todos pareciam domesticados, eis que o inventor do professor de Deus rebela-se e depois de 5 anos vivendo desempregado e às custas de uma pensãozinha e do que sobrou da navalhada, arranja um sinecura exatamente onde? No berço do único adversário a ser realmente combatido: João Castelo.
E Dino, o Pai de Todas as Esperanças, o Pregador das Boas Novas, silencia. Aí eu lembro do meu pai dizendo: “Ele usa o boneco para nos enganar!”
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