quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bumba meu boi, patrimônio do Brasil


Bumba meu boi do Maranhão agora é patrimônio de todos os brasileiros, assim como o Tambor de Criola.


Bumba meu boi, patrimônio do Brasil


O bumba meu boi do Maranhão agora é Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão histórica para a cultura maranhense foi proferida ontem na sede do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. A decisão dos 22 conselheiros foi unânime em registrar o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi como patrimônio nacional.
A governadora Roseana Sarney destacou ainda que o patrimônio do Maranhão agora passa a ser também patrimônio cultural do Brasil. “Essa é uma vitória de todos os maranhenses, principalmente dos que fazem parte dessa festa que é o bumba meu boi”, disse. Participaram da solenidade o vice-governador Washington Luiz Oliveira; os secretários de Estado Luis Fernando Silva (Casa Civil), Max Barros (Infraestrutura) e Sérgio Macedo (Comunicação Social), além dos amos de boi Humberto de Maracanã, João Chiador, Francisco Naiva, Chagas da Maioba, José Carlos Lobato, José Alberto, entre outros.
“Decidi acompanhar a votação aqui no Maranhão, pois queria sentir o calor e a alegria do povo de perto, em um momento tão importante e histórico para o maranhense”, declarou a governadora. O secretário de Estado da Cultura, Luís Bulcão, acompanhou a votação em Brasília.
“Acompanho desde o início da minha vida a brincadeira de boi e nunca pensei que estaria viva para presenciar este momento”, declarou emocionada a pesquisadora Zelinda Lima. Também muito emocionado, o cantador Humberto de Maracanã reiterou as palavras da pesquisadora. “A única coisa em que posso pensar agora é que finalmente o bumba-boi está unido e fortalecido. A partir de agora, temos a responsabilidade de representar não só o Maranhão, mas o Brasil”, declarou. O escritor Ubiratan Teixeira reafirmou a paixão maranhense pelo São João e a brincadeira do bumba-boi. “O Maranhão é uma terra que tem no seu sangue a diversidade dos sotaques. É por isso que hoje, ainda que tarde, o Brasil e o mundo reconhecem a importância desta manifestação folclórica”, enfatizou.
Votação – A abertura da reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural foi feita pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, que cedeu a palavra ao relator do processo, o conselheiro do Iphan Luiz Phelipe Andrés. Inicialmente, foi apresentado o vídeo de introdução aos estudos do bumba-boi no Maranhão. No vídeo, constavam depoimentos de diversos pesquisadores e brincantes de boi. O antropólogo Sérgio Ferreti declarou em vídeo que o importante da pesquisa do Bumba boi é o resgate da memória.
“A pesquisa que levou ao relatório do bumba-boi é um material que servirá de base para toda e qualquer pesquisa daqui por diante. Registrar a memória audiovisual de quem compõem o boi em todas as suas etapas é um privilégio imensurável de conhecimento”, destacou Ferreti.
Antes de cada conselheiro indicar seu voto, Andrés fez a leitura minuciosa do relatório. E ao final, muito emocionado, declarou amor ao Maranhão. “Desde quando cheguei ao Maranhão, em 1977, conheci um grupo de bumba meu boi de costa de mão, no município de Mirinzal, e fui arrebatado. Defendendo o título de Patrimônio Cultural para o bumba-boi. É a realização de uma vida e de uma escolha em morar e trabalhar por este estado”, declarou Luiz Phelipe Andrés.
Com a votação unânime dos 22 conselheiros, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, parabenizou via teleconferência a governadora Roseana Sarney e todos os brincantes presentes. “É uma honra dar este título a pessoas tão nobres e vivas que brincam o bumba meu boi”, declarou a ministra. A governadora Roseana Sarney agradeceu declarando que o título é de todos os maranhenses.
Medidas – Depois de confirmado o título de Patrimônio Cultural do Brasil, a expectativa agora é com a vinda dos conselheiros ao Maranhão para a entrega do título e, ao mesmo tempo, apresentar as medidas que irão salvaguardar os bens imateriais do bumba meu boi. Para preservar a festa, o Iphan sugeriu algumas medidas de salvaguarda, como o incentivo à documentação, conhecimento e divulgação; fortalecimento e apoio à sustentabilidade dos grupos e a valorização das expressões tradicionais do bumba meu boi. A pesquisadora Ester Marques, presente no Palácio dos Leões, lembrou que a cada 10 anos o título passará por uma revisão dos conselheiros.
Segundo Luís Felipe Andrés, também é necessário criar novos espaços para a apresentação dos grupos, aproximando integrantes e a platéia. “Em alguns arraiais oficiais, foram construídos palcos que, além de distanciar o público, modificam as práticas de sociabilidade tradicionais do bumba-boi, baseadas na aproximação entre brincante e espectador”, disse o relator.

Ao fim da votação, a governadora Roseana falou sobre os planos de comemoração do título: "Vamos fazer uma festa sim para comemorar este momento e pretendemos que seja quando a comissão vier entregar o título. Queremos que a ministra, os conselheiros, principalmente, o Luís Felipe Andrés, que defendeu este voto de maneira tão dedicada, compartilhem dessa festa com a gente", finalizou emocionada.  

Boi de Nina Rodrigues. Nodeste Brasileiro
http://www.youtube.com/watch?v=QcTBOnMhOC8

Vencendo o preconceito e ganhando a legitimidade


Vencendo o preconceito e ganhando a legitimidade


Tanto na defesa pelo título de Patrimônio Cultural quanto nas declarações dos representantes de bois presentes no Palácio dos Leões, muitos lembravam o processo de marginalização da brincadeira.
O antropólogo do Iphan Raul Lody, que trabalhou no inventário do bumba meu boi, lembrou que nos arquivos da Polícia Civil de 1839, um negro escravo foi preso com a justificativa de causar badernas com pedaços de madeira. “Essa denúncia registrou como era o preconceito com o brincante do boi, que durou até a década de 70 do século passado”, observou o antropólogo.
A pesquisadora Zelinda Lima revelou que foi o senador José Sarney, quando era governador do Estado, quem iniciou o processo de aceitação das brincadeiras de bumba-boi no centro da cidade. “Para acabar com o preconceito com os brincantes de boi, o então governador José Sarney levou para o palácio uma brincadeira de bumba-boi para se apresentar. A partir daí, as coisas foram mudando”, lembrou Zelinda Lima.
A pesquisadora Ester Marques afirmou que depois de superar o preconceito e conquistar o título de Patrimônio Cultural do Brasil o bumba-boi ultrapassou mais uma barreira. “Os limites do bumba meu boi foram superados. Agora o bumba-boi não é mais só do Maranhão, faz parte da cultura do Brasil”, concluiu a pesquisadora.

Boi de Morros/2011

O místico-religioso do bumba meu boi está presente na vida social


O místico-religioso do bumba meu boi está presente na vida social


O relatório que defendeu o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Bumba Meu Boi foi elaborado com a realização do Inventário Nacional de Referência Cultural (INRC). Os técnicos do Iphan destacaram que a festa tem profundas relações com as esferas religiosas da vida por meio do catolicismo popular e das religiões afrobrasileiras e também se associa às expressões lúdicas. “Os participantes fazem o boi pagar promessa ou como oferenda a entidades espirituais, por exemplo, como existem também aqueles que querem apenas fazer a sua apresentação”, destacou o relator Luiz Phelipe Andrés.
Na avaliação do conselheiro, o bumba meu boi do Maranhão está presente em muitas dimensões da vida social dos participantes. “Existem regiões no estado onde os grupos fazem visitas às covas de cemitério para saudar os mortos, reforçando a relação que o ciclo festivo estabelece com o ciclo vital, com a vida e morte de bois e homens”, completou.
Mudanças - Os folguedos, segundo Andrés, também se transformaram no passar dos anos, sendo que a partir da década de 1990 ocorreu a consolidação do bumba meu boi como produto no mercado cultural e a dependência dos grupos com o estado em função do grande volume de dinheiro investido nas apresentações. “Até mesmo os locais para a realização da festa foram institucionalizados, passando a ocorrer, principalmente, em arraiais oficiais do governo e sendo reguladas por contratos”, destacou.
O cantador do Boi da Floresta, Felipe Fonseca, lembrou que sua participação como cantador foi por meio de uma promessa, que, segundo ele, é a renovação da energia para aguentar o período de apresentações. “Quando estive muito doente e desenganado por médicos, São João não me desapontou e por ele e por todos os santos estou todo ano, até o meu ultimo dia de vida, celebrando o boi”, contou Fonseca.

Boi de Axixá - Bela Mocidade

Bumba-boi: uma celebração múltipla marcada por músicas, coreografias e devoção popular

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Bumba-boi: uma celebração múltipla marcada por músicas, coreografias e devoção popular


O bumba meu boi do Maranhão é uma celebração múltipla que congrega diversos bens culturais associados, divididos entre plano expressivo, composto pelas performances dramáticas, musicais e coreográficas, e o plano material, composto pelos artesanatos, como os bordados do boi, confecção de instrumentos musicais artesanais, entre outros. Em todo seu universo, destaca-se também a riqueza das tramas e personagens.
De um modo geral, o auto do bumba-boi é apresentado como a morte e a ressurreição de um boi especial. As apresentações cômicas são feitas com grande participação do público e são entremeadas por toadas curtas contando a história sobre um boi precioso e querido pelo seu amo e pelos vaqueiros.
Pai Francisco, o escravo de confiança do patrão, mata e arranca a língua do boi para satisfazer os desejos de grávida de sua esposa, Mãe Catirina. O crime de Pai Francisco é descoberto e por isso ele é perseguido pelos vaqueiros da fazenda, caboclos guerreiros e os índios. Quando preso, são infligidos terríveis castigos e, para não morrer, Pai Francisco se vê forçado a ressuscitar o animal. É quando o doutor entra em cena para ajudar a trazer à vida o boi precioso, que, ao voltar, urra. Todos, então, cantam e dançam em comemoração.
Devoção - Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o bumba meu boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal. Os cultos religiosos afrobrasileiros do Maranhão também estão presentes, como o Tambor de Mina e o Terecô, caracterizando o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual.
O parecer do Departamento de Patrimônio Material – DPI/Iphan destaca que o bumba meu boi do Maranhão reúne também outras manifestações culturais e, por isso, é chamado de complexo cultural. Muitas vezes definido como um folguedo popular, o bumba meu boi extrapola a brincadeira e se transforma em uma grande celebração tendo o boi como o centro do seu ciclo vital e o universo místico-religioso.


Boi da Maioba




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