sábado, 1 de fevereiro de 2014

Primeiro beijo gay na telenovela brasileira torna-se um divisor de águas entre a hipocrisia e a realidade

 









De Vida Alves e Water Forster em 1951 a Felix e Niko em 2014 mais de 60 se passaram. A ousadia de um simples beijo poderá ser novamente o pontapé para uma revolução parecida com a ocorrida há mais de 60 anos, quando Walter Forster e Vida Alves protagonizaram o primeiro beijo da TV brasileira no folhetim Sua Vida Me Pertence, em 1951, na extinta TV Tupi. Aquele selinho foi o responsável pelos beijos apaixonados que vemos hoje na telinha mas que na época pais correram a tirar as crianças da sala para não assistirem aquela "imoralidade".
O Brasil foi o último país dentre as três américas a mostrar um beijo gay em suas telenovelas. Na Argentina esse tipo de cena em telenovelas já é corriqueira e acontece há mais de duas décadas, nem por isso os héteros de lá viraram gays. Se um simples beijo entre pessoas do mesmo sexo tem o poder de mudar a preferência de um hétero é sinal de que essa pessoa não é tão hétero quanto diz ou pensa ser.
Mas de lá pra cá uma coisa não mudou, a  hipocrisia de sempre, essa continua a mesma. Se o Felix tivesse matado o Niko num crime hediondo com requintes de crueladade, os fundamentalistas religiosos estariam comemorando  e achando tudo normal como acontece nos países onde a religião é a lei. Um homem matar outro pode e deve, amá-lo, JAMAIS!!!

...e a tão esperada cena de beijo gay em uma novela brasileira finalmente aconteceu! 


O Jornal Nacional mostrou no dia seguinte telespectadores em clima de Copa do Mundo em várias capitais do país na expectativa de presenciar o primeiro beijo gay numa novela brasileira. Assista AQUI
 
Este blog vem a público deixar claro: achamos um absurdo o beijo gay!

Tinha que passar apenas coisas normais, que tem em todas os filmes e novelas: assassinato, estelionato, traição, roubo,  tráfico de drogas e de pessoas... essas coisas mais família! Definitivamente, não foi legal.

Mas para o não preconceituosos que quiserem ver um beijo gay "caliente" com Mateus Solano, assistam a cena do filme A Novela das Oito.

 
Aqui o link do filme na integra:


Sinopse:

Brasil, 1978. Ainda sob ditadura militar do presidente Ernesto Geisel, o Brasil sucumbe à discoteca graças ao enorme sucesso da novela Dancin' Days.
Amanda, uma prostituta viciada no drama televisivo, e sua empregada, Dora, são obrigadas a fugir de São Paulo depois de um incidente fatal e partem pro Rio de Janeiro, mas com o policial federal Brandão em seu encalço.
Nesta jornada, o destino de ambas irá cruzar o caminho de João Paulo, um diplomata que se sente estrangeiro em seu próprio país.
Vicente é um líder de um grupo revolucionário e seu irmão Pedro; e do adolescente Caio que, criando pelos avôs, conta com a ajuda apenas de sua melhor amiga Mônica na luta para serem aceitos como gays.
Ambos são jovens, fascinados por disco music e pela novela Dancin' Days.

Com Claudia Ohanna, Vanessa Giácomo, Mateus Solano, Paulo Lontra, Alexandre Nero e outros. Filme típico de novela das oito....veja e emocione-se

 
Confira como foi a gravação da cena final AQUI

O dramaturgo Claudio Simões escreveu um dos melhores textos que li sobre o beijo entre Felix e Niko. Vale muito a leitura!!!
 
31 de janeiro de 2014, por volta de onze horas da noite, depois de um longo capítulo, como quase sempre o é um último capítulo de novela, aconteceu o primeiro b...eijo na boca entre dois homens numa novela da Globo. Eu estava assistindo à novela. Eu vinha me emocionando com o casal durante semanas, desde que o autor, Walcyr Carrasco, começou a estabelecer o romance entre os dois personagens, Félix e Nico. E, sim, eu me emocionei MUITO com a cena em que os dois se beijam. Sim, foi emocionante, foi linda e foi histórica. No momento me emocionei tanto que nem escrevi nada no face, mas pude ver o pipocar de posts, quase todos comemorando o feito. E alguns reclamando que o beijo foi xoxo, que a Globo só deixou passar porque está sem audiência (como?), e muitas outras chatices. Sim! Chatices! Caraca! O beijo foi xoxo? Porra, até o dia anterior nem tinha beijo entre dois homens e a criatura já queria o quê? Chupão pornô ainda teve quem dissesse que tolo é quem comemora esse beijo. Na boa, tolo é quem esperou que fosse um chupão selvagem. A Globo precisa de audiência? Claro! A Globo tem perdido audiência? Tem. Como todas as emissoras têm perdido. Mas não se pode ignorar que a Globo ainda é a única emissora do país que consegue ter uma audiência de mais de 40 pontos e - portanto - é histórico que essa emissora exiba um casal de homens se beijando. Mas, pra mim, mais importante que o beijo foi a circunstância que o autor criou pra esse beijo: uma cena cotidiana de um casamento. Não foi uma cena de luxúria, de lascívia, de apelo sensual-sexual. Foi uma cena de puro e simples amor. Amor, afeto, carinho, felicidade. E por que eu acho um beijo assim muito mais importante do que se fosse um beijo lascivo? Porque a nós, homossexuais, nunca se negou o sexo. Pelo contrário: sempre fomos identificados pelo sexo. O homosSEXUAL. No imaginário da sociedade, está sempre o que o homossexual faz na cama. Ele dá? Ele come? Não importa, ele FAZ SEXO. Isso nunca nos foi tirado. Mas o que sempre nos foi negado foi o afeto, foi a demonstração do carinho máximo entre duas pessoas que se amam, que é o beijo. O beijo que diz que um home pode AMAR o outro e não simplesmente ter tesão pelo outro. Porque o amor entre duas pessoas do mesmo sexo sempre meteu mais medo que a putaria. Porque a putaria, assim como a homossexualidade, já era mal vista - mesmo a putaria entre pessoas de sexos opostos. Mas o sentimento amoroso entre homem e mulher não é mal visto. Pelo contrário, esse sentimento ganhou uma aura de sagrado. Mas a união de dois homens não podia ser vista com essa mesma sacralidade. O que Walcyr conseguiu foi que, naquela cena, o público visse o casal não no momento da descoberta da paixão, mas na confirmação de que a vida a dois que eles têm pode ser tão sagrada quanto a vida a dois idealizada em qualquer romance. Por isso que esse beijo não precisava da lascívia. E isso o tornou mais forte. Não foi xoxo. Foi real. Mesmo sem língua. E a interpretação dos dois atores deu todo o clima de familiaridade e cumplicidade e intimidade do casal. Os selinhos que eles trocam logo após o beijo mostram esse momento em que reafirmamos o amor que sentimos por noss@ espos@. Eu já passei por tantos momentos como aquele retratado na cena do beijo. Vi ali meus casamentos, os momentos de pura afirmação do amor que eu sentia. Foi histórico também por ter sido o último beijo do capítulo. Dentro de uma telenovela, reserva-se para o casal que mais agrada ao público a cena amorosa final. Ser de Nico e Félix o último beijo, mostra o quanto o público torcia pelo casal. E, para além do beijo, Walcyr conduziu o personagem para um entendimento com o pai antes radicalmente homofóbico. Ora! Depois da cena de Cesar e Félix (com um trabalho lindo e contido de Antonio Fagundes, vale ressaltar), senti que o beijo foi só um detalhe na construção desse final belíssimo. É uma nova ordem. É a instauração da possibilidade de entendimento. Walcyr Carrasco, nas cenas finais, conseguiu me surpreender e, acredito, a toda a audiência. Chorei muito, com muita felicidade, por ter visto este último capítulo. Valeu muito.

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