terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Jornal O Estado do Maranhão faz um tributo a Nonato Buzar

Buzar deixa vasta produção musical

Com gravações de Luiz Gonzaga, Elis Regina, Milton Nascimento, artista deu contribuição à música nacional.
Foto: Arquivo
Com Haroldo Costa, Buzar foi destaque do programa
Nonato Buzar deixa um vasto cancioneiro composto por mais de 1.600 composições gravadas e regravadas por artistas do mundo inteiro. Ivan Lins, Elis Regina, Milton Nascimento, Elza Soares, Frejat, Luiz Gonzaga, e os internacionais Jimmy Cliff, Carlos Santana e Joe Hamilton são alguns dos artistas que gravaram obras do maranhense.
Nonato Buzar foi um compositor à frente de seu tempo. Suas músicas até hoje são gravadas por diversos artistas, sendo considerado o percussor do rap brasileiro com sua famosa música O carango, parceria com Carlos Imperial, imortalizada na voz de Wilson Simonal,foi regravada pelo grupo Skank. Outra prova da atemporalidade da obra de Nonato Buzar foi a regravação feita ano passado, pelo grupo Casuarina, da música Rio Antigo em seu DVD.
Nonato Buzar iniciou sua carreira em 1956 depois de ouvir Tom Jobim e Vinícius de Moraes interpretando Samba de uma nota só. Participou, ao lado de Carlos Imperial e Wilson Simonal, do movimento da Pilantragem, em uma época de grande efervescência cultural da juventude brasileira.
Como produtor, foi um dos responsáveis pelo lançamento do selo da Som Livre e compôs 18 músicas para aberturas de novelas da Rede Globo, entre as quais O homem que deve morrer e Assim na terra como no céu, além de Verão Vermelho e Irmãos Coragem. Também assinou músicas para trilhas sonoras de outras produções globais, a exemplo de O Cafona, Minha Doce Namorada e Anjo Mau.
O repertório do compositor maranhense inclui ainda canções famosas como Rio Antigo, Vesti Azul, La vem ela, A feira, entre outras. Nos anos 1960 foi um dos destaques da MPB, tendo gravado com Elis Regina, Alcione, Jimmy Cliff, Santana, Paul Anka e MPB-4. Para aperfeiçoar sua música, morou na França, onde se apresentou em cidades como Paris, Cannes, Saint-Tropez e Nice.
Durante a temporada na Europa, também mostrou trabalho na Espanha, Itália, Alemanha e Portugal. No Brasil, subiu ao palco de espaços como o Vinicius Bar, Teatro Rival e Mistura Fina.

Discografia


- O primeiro retrato - gravadora Tape Car/ LP
- Temas de novelas - gravadora RCA /LP
- Via Paris-gravadora Copacabana/ LP
- O donzelo- RCA/ LP
- A Turma da Pilantragem- Philips/ LP
- A Turma da Pilantragem- Philips/ LP

Obra de Nonato Buzar é celebrada

A importância de Nonato Buzar para a Música Popular Brasileira foi ratificada por seus conterrâneos, amigos e parceiros de trabalho.
 
Foto: Divulgação
Nonato Buzar foi homenageado pelos parceiros
O falecimento do compositor Nonato Buzar deixou a classe artística de luto. Amigos e parceiros que conviveram com o compositor lamentaram a morte e se referiram a ele como um artista de importância singular para a música brasileira, referência para seus conterrâneos e para outros artistas nacionais e internacionais.
O compositor e cantor Rogéryo Du Maranhão, que por diversas vezes se apresentou ao lado de Nonato no Rio de Janeiro e no Maranhão, relembrou a parceria com o compositor e amigo. "Nós éramos parceiros de trabalho e amigos. Gravei pelo menos cinco músicas nossas. O conheci quando ele trabalhava com João do Vale, época em que começamos a compor juntos. Foi um grande aprendizado, sem dúvida. Nonato era um homem muito inteligente. Falava diversos idiomas ", relembrou.
Rogéryo recordou inesquecíveis momentos musicais ao lado do conterrâneo. "Na década de 1980, fizemos uma parceria, eu, ele e o cantor Fagner, cantando em Copacabana, no Rio de Janeiro. O sonho dele era morrer em Itapecuru. Pena que isso não aconteceu", lamentou Rogéryo Du Maranhão.
O cantor Gerude afirmou que Buzar era seu grande mestre e que deixa um legado extraordinário para a música brasileira. "Em 2011, eu estive no Rio de Janeiro e fui visitá-lo. Vi que ele já estava abatido, pois não se alimentava direito e não tinha muita resistência. Lembro até que alguém estava fazendo um documentário sobre a vida dele, mas se tratava de iniciativa particular", contou.
Gerude se apresentou ao lado de Buzar e de outros colegas de música no Teatro Arthur Azevedo, no show Irmãos Coragem, em prol das vítimas da enchente no interior do Maranhão. "Ele foi muito importante na minha formação como compositor. Depois que o conheci, passei a compor bem melhor. Eu mostrava a ele e ele me dizia: Olha! Você aprendeu mesmo", orgulhou-se.
Para o compositor José Pereira Godão, Nonato Buzar teve reconhecida participação no período de afirmação dos compositores brasileiros na década de 1960, quando se estabelecia o projeto da MPB. "Era uma pessoa muito carinhosa comigo e com todos nós. Conseguia fazer uma música muito bem elaborada. Ele faz parte de uma geração primorosa de artistas brasileiros. Sem dúvida, uma perda muito grande", declarou Godão.
O cantor Glad Azevedo referiu-se a Nonato Buzar como um excelente violonista, destacando que a nova geração tem em sua obra uma fonte rica e inesgotável, uma verdadeira aula de como se faz boa música no Brasil para o mundo. "Eu gravei no CD Por inteiro e o Quase Tudo a música Vesti Azul, e no CD Canto de Lá a música Namorada do Sol. Essa, eu tive a honra de ter Nonato Buzar como participação especial, dizendo o poema da canção. Para o Brasil e para o mundo, basta citar que Nonato foi gravado por Jimmy Cliff e Carlos Santana, além de ser compositor de diversas trilhas sonoras de novelas da Rede Globo", relembrou.

Redes sociais - A morte do compositor repercutiu também nas redes sociais, principalmente no Facebook. Nosly, cantor e compositor, por exemplo, escreveu: "Meu parceiro e irmão querido. Que só de Luz seja teu caminho. A saudade é imensa e levarei até o fim da vida todas as lições aprendidas contigo e nossa música está registrada para sempre no astral e no meu coração. Muita Paz", escreveu o artista.
A cantora Alexandra Nicolas recordou que, em 1993, reuniu-se com Nonato Buzar para escolher canções e poemas para a gravação do seu primeiro disco. "Ouvi e li versos belíssimos e ganhei um poema chamado Pequena Danada. Boas lembranças. Descanse em Paz, Natinho".
"Hoje se foi um dos maiores compositores brasileiros: o maranhense Nonato Buzar. Dele ficaram pérolas musicais, entre elas Rio Antigo, feita em parceria com Chico Anysio, e dizem que foi feita especialmente para a nossa Marrom Alcione. Quando eu fazia parte do Som do Mará, ele participou de uma de nossas apresentações e elogiou uma de minhas músicas: São Luís de Coração. Fiquei todo orgulhoso", escreveu o cantor Marco Duailibe em sua página no Facebook.
O poeta Luís Augusto Cassas também escreveu no Facebook sobre Nonato Buzar. "Desde ontem, o compositor maranhense Nonato Buzar vestiu azul e passou a habitar outras paisagens".
Já a cantora Tâmara Terra, considerada uma das revelações na música do Rio de Janeiro, relembrou a parceria musical com o compositor, a quem chamou de padrinho. "Nonato Buzar foi um pai, um amigo, um professor, uma inspiração, uma emoção, uma beleza única na minha vida. Meu padrinho se foi, não pude me despedir dele pessoalmente, mas pressenti sua morte como nunca achei que fosse possível. E a inacreditável notícia veio em uma mensagem. Doeu muito um pressentimento concretizado, senti meu coração do tamanho de uma ervilha. Mas percebi que foi uma forma de despedida. Ele veio como num abraço e disse: Estou indo... E eu senti! Não tive a oportunidade de dizer pela última vez quantas coisas lindas ele me deixou. Estou tentando me conformar aos poucos, mas o pranto me domina", definiu a artista.
"Uma sensação estranha de solidão tomou meus pensamentos. Meus amigos estão indo. Será que é hora de deixar as malas prontas para essa grande viagem? Segura essa onda meu bom véio. Somos irmãos da mesma mãe coragem. Fica com Deus", escreveu o poeta, compositor, radialista, produtor musical e diretor Tibério Gaspar, que compôs A Voz da América em parceria com Nonato Buzar.
O compositor Zeca Baleiro em entrevista a O Estado também relembrou a importância da vasta obra de Buzar para a música brasileira e relembrou que há alguns anos ensaiaram uma parceria que, infelizmente, não aconteceu. “Nonato Buzar é um grande compositor. Uma pena que as novas gerações não conheçam ou conheçam muito pouco da sua obra. O homem foi responsável por várias trilhas de novelas da Globo nos anos 1970, sendo o tema de Irmãos Coragem talvez a mais bonita e importante ("irmão, é preciso coragem..."). Várias canções do repertório do Simonal também eram dele, como Vesti Azul, que teve até versão de Jimmy Cliff para o inglês no começo da carreira. Tem parcerias com outros craques como Torquato Neto, Paulinho Tapajós e Chico Anysio, com quem compôs Rio Antigo, na minha opinião a sua mais bela canção.
Nos encontramos algumas vezes no Rio e eu prometi visitá-lo junto a Nosly, parceiro comum, na casa que ele tinha na Ilha da Gigoia, pra tocarmos uma viola e quem sabe compormos juntos, mas o encontro nunca rolou por causa da nossa louca correria, o que agora lamento profundamente. Certa vez fizemos uma homenagem a ele no programa Biotônico, que eu, Celso Borges e Otávio Rodrigues apresentamos por um ano e meio na Rádio Uol. Mas foi pouco, ele merecia (e merece) muito mais”, declarou.
 

O adeus a Nonato Buzar

Cantor e compositor maranhense deixou legado à Música Popular Brasileira; seu enterro será hoje em sua cidade natal, Itapecuru-Mirim.
 
Foto: Divulgação
 
Mesmo morando no Rio de Janeiro, Nonato Buzar sempre manteve contato com compositores locais
A Música Popular Brasileira começou a semana contabilizando uma grande perda. O compositor Nonato Buzar morreu no Rio de Janeiro, na manhã do último domingo, em decorrência de falência de múltiplos órgãos. O músico deixa dois filhos e um neto. O maranhense, de 81 anos, estava internado com pneumonia havia 15 dias no Rio, onde estava radicado há décadas. O enterro será hoje, em Itapecuru-Mirim (120km de São Luís), cidade natal do artista. O velório será na Casa de Cultura e a família pede que todas as pessoas compareçam vestidas de Azul.
Dono de um extenso legado dedicado à MPB, Nonato Buzar incursionou ainda pela literatura e deixa o livro de contos e poemas Planeta Neus, ainda a ser publicado. Pai de Maria Moreno e Francisco Eduardo, tinha um neto de 4 meses.
De sua discografia constam grande sucessos, a exemplo da trilha sonora de abertura da novela Irmãos Coragem, exibida pela Rede Globo no início da década de 1970. A música, que leva o nome da novela, foi composta em parceria com o compositor carioca Paulinho Tapajós e gravada por Jair Rodrigues. Antes, assinou o tema da novela Verão Vermelho, abertura de novela homônima exibida no final da década de 1960, também pela Rede Globo.
O último encontro com os fãs maranhenses foi em 2010, quando o compositor veio a São Luís para participar de um show no qual, além de cantar, contou um pouco de sua bem- sucedida trajetória musical, compartilhando suas experiências com os conterrâneos.
Foram dois dias de apresentação no qual Buzar dividiu o palco com artistas locais como Nosly, Gerude e Josias Sobrinho. Na ocasião, os artistas tinham o objetivo de discutir com o público e outros artistas a importância e os rumos da música popular feita no Maranhão. Na época, em entrevista a O Estado, Nonato Buzar ressaltou: "Volto a São Luís para comprovar que o que eu penso e digo sobre a música maranhense é certo. Nas minhas comparações, os compositores daqui estão entre os melhores do país".
Na entrevista, além de elogiar os músicos locais, Nonato Buzar fez severas críticas aos ritmos que despontam no cenário musical brasileiro. Para ele, por exemplo, o axé music e do hip hop não deveriam ser consideradas como verdadeiramente populares brasileiras.

Beneficente - Mesmo morando há muito tempo no Rio de Janeiro, Nonato Buzar nunca esqueceu o Maranhão nem tampouco sua terra natal, a cidade de Itapecuru-Mirim. Prova disso foi um show beneficente que o artista fez em 2009 a fim de ajudar vítimas de enchentes daquele município. Providencialmente intitulado Irmãos Coragem, o show reuniu, além de Nonato Buzar, Rogéryo du Maranhão, Gerude e Nosly.
Na época, o compositor disse ter se sensibilizado ao ver pela televisão as imagens de sua terra coberta pelas águas. "Cheguei a chorar, mas imediatamente peguei o telefone e liguei para o prefeito da cidade, me oferecendo para fazer um show beneficente, com o que ele concordou e se colocou à disposição", explicou o compositor à época.
Naquele show, além de Irmãos Coragem, Buzar interpretou A voz da América, Sinfonia de índio, Vesti azul, Rio antigo e Menino de Itapecuru, entre outras. Ele cantou ainda Cidade de Itapecuru, um hino ao município.

Linha do Tempo - Nonato Buzar


- Raimundo Nonato Buzar nasceu em Itapecuru-Mirim em
26 de agosto de 1932.
- É cantor, compositor e produtor musical.
- Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1953 a fim de estudar Engenharia. Aprovado no vestibular, desistiu
do curso e dedicou-se à música naquele mesmo ano.
- Teve composições gravadas por Elis Regina, Alcione, Elizeth Cardoso, João Nogueira, Nana Caymmi, Rosinha de Valença, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, MPB-4, Wilson Simonal, Sílvio César, Ivan Lins e Milton Nascimento, entre outros.
- Sua primeira apresentação em televisão foi no programa de
Córis Luna Freire, levado ao ar pela TV Continental.
- O primeiro registro de uma composição de sua autoria foi a gravação de Guerra à bossa, por Paulo Silvino.
- Em 1965, escreveu a contracapa do disco 400 anos de samba, de Elizeth Cardoso, lançado pela Copacabana Discos em homenagem ao IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro.
- Idealizou, produziu e fez parte da do conjunto A Turma da Pilantragem, com o qual atuou em 1968 e 1969.
- Como produtor musical, trabalhou nas gravadoras PolyGram (de 1969 a 1971) e RCA Victor. Nessa função, foi responsável por discos de Jair Rodrigues, Regininha, Sílvio César, Banda
do Canecão, A Turma da Pilantragem, Jimmy Cliff, Festival Internacional da Canção e Wilson Simonal, entre outros.
- Participou de edições do Festival da Música Popular Brasileira (TV Record), do Festival Internacional da Canção (TV Globo) e do Festival da TV Tupi.
- Nos anos 1970, atuou em campanhas publicitárias, como um dos sócios da produtora Aquarius.
- Compôs, com Marcos e Paulo SérgioValle, Dori Caymmi e Nélson Motta, o jingle do guaraná Brahma veiculado nessa época, entre outros.
- Entre 1972 e 1976, morou na França, onde formou a banda Nonato Buzar e o País Tropical, apresentando-se em shows e gravando o disco Via Paris.
- Em 2003, sua canção Menininha do portão (composta em parceria com Paulinho Tapajós) fez parte do primeiro CD da cantora Maria Rita, que atingiu a vendagem de 350.000 cópias apenas dois meses após o lançamento.

Veja vídeo do compositor na edição on-line de O Estado

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