sábado, 29 de junho de 2013

Meu mais belo despertar

 
Eram quase sete horas da manhã e eu insistindo naquele sono sem graça, mais por preguiça que por descanso. Entretanto eu ainda sonhava. Era um desses sonhos que a gente nem lembra no dia seguinte, como de fato não lembro. De repente aquele sonho sem graça começou a ser invadido pelo ressoar empolgante de matracas e pandeirões a colorir meu sonho em preto e branco. Sonho e realidade começaram a se misturar na minha mente. Já não sabia se estava dormindo ou acordado, contudo as matracas insistiam em invadir o meu quarto, assim mesmo, deliciosamente despudoradas, sem pedir licença para entrar. Mas aquele som invasivo não me perturbava o sono, pelo contrário,  até embalava a minha alma como uma canção de ninar a produzir um efeito contrário e a dizer: "Acorda e vem viver a vida". Imaginando ser apenas o som proveniente da casa de algum vizinho barulhento, virei para o outro lado e tentei continuar dormindo. Ouvi o Hino Nacional todinho sendo entoado ao som das matracas e pandeirões. De repente elas  ensurdeceram dando lugar a um silêncio mágico que faz a transição  entre uma toada e outra. É um silêncio tão especial que parece fazer parte da música e a voz à capela, daquele cantador, entoou rasgando o silêncio: "Se não existisse o sol, como seria pra terra se aquecer? Se não existisse o mar, como seria pra natureza sobreviver?" era demais para um ludovicense, orgulhoso de sua cultura como eu, resistir. Saltei da cama e ganhei o dia. Era mesmo o Boi da Maioba que estava ali, pertinho de mim, com seus caboclos de pena, sua exuberância e seus mais de cem anos de encantamento a me presentear com o mais belo despertar.

Zeca Maranhão

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